Greening afeta produção da tangerina poncã na região de Rio Preto

Greening afeta produção da tangerina poncã na região de Rio Preto
Frutos de poncã colhidos pelo produtor Carlos Alberto Jacintho; colheitas estão mais escassas de poncã no Noroeste paulista (Divulgação)

Nas gôndolas dos supermercados, as tangerinas estão bonitas e vistosas, mas o consumidor já observou que ainda os frutos não estão tão saborosos. No campo, os produtores se esforçam para os cuidados nos tratos culturais com a fruta, potencializados no combate da doença do greening. As previsões dos fruticultores são de que, a região do Noroeste paulista, está tão impactada com o greening que cada vez mais o mercado receberá menos a variedade poncã, com qualidade muito abaixo do que seria ideal para uma fruta saborosa.

“Na minha produção, o greening atacou em 90% das árvores de poncã e não teve outro jeito, erradiquei tudo, mais ou menos 1.200 pés. Agora plantei 400 plantas, que deverão ter produção comercial só em 2026”, conta o produtor de Rio Preto, João Carlos de Carvalho. Ele explica que os reflexos do greening- uma doença que não tem cura para os citros- na poncã são bem maiores do que na laranja, por exemplo, porque atinge mais severamente o fruto da tangerina.

A cada safra da poncã na região do Noroeste, produtores contam que as colheitas vão diminuindo e o custo de produção fica ainda mais elevado, com as inúmeras pulverizações necessárias no controle do greening e de outras doenças. “Terminei já a colheita neste ano e vamos arrancar os pés de poncã. A poncã aqui na região vai acabar ficando escassa”, afirma o produtor Paulo Faioto, de Olímpia.

Preços

Paulo diz ainda que precisará erradicar 1.000 árvores de poncã pelo fato de não conseguir fazer todos os tratos culturais. “Ficou muito ruim o preço pago pela fruta no ano passado e não tivemos alternativa, precisei erradicar os pomares da tangerina”. Com o custo de produção mais alto para os produtores e os preços pagos na roça mais baixos, a viabilidade da produção de poncã ficou restrita na região.

Especialistas comentam que as regiões mais quentes começam a colheita de poncã mais cedo, a partir do mês de março, como ocorre no Noroeste paulista. Esse é um motivo para que os preços fiquem, a partir da colheita em algumas regiões do estado de São Paulo, mais atrativos para os produtores.

Segundo pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), apesar de dar início à colheita em algumas regiões do estado, o volume de poncã disponível ainda é baixo. A expectativa é que a oferta aumente a partir de abril, quando mais frutas devem atingir o estágio ideal de maturação.

Por enquanto, o Cepea avaliou que a escassez de poncã no mercado vem mantendo os valores em patamares atrativos aos produtores. Porém, nos pomares dos fruticultores de poncã, os danos foram muitos e não há fruta suficiente para ofertar ao mercado. “Temos bons preços e compradores, mas não temos produção da fruta. É assustador o que aconteceu com a safra de poncã neste ano”, ressalta Valentim Donizete Alves, que possui pomares da tangerina no município de Paraíso.

Oportunidade

Dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA) apontam que na região de Rio Preto no ano de 2022, os pomares de poncã atingiam 11,7 mil pés novos da fruta, e em 2023, 5,7 mil pés. Já na região de Jales, onde há uma menor incidência de greening (em comparação a região de Rio Preto), em 2022 foram cultivados 45,35 mil pés novos e em 2023, 48 mil novos pés de poncã.

Com propriedade no município de Estrela d’Oeste- onde a incidência de greening é um pouco menor- o produtor Carlos Alberto Jacintho pontua que as diversas doenças que atacam a citricultura devem selecionar ainda mais a produção de poncã. “O greening é um divisor de águas, e muitos produtores vão deixar o negócio e outros conseguem oportunidades”.

Ele possui 30 mil árvores de poncã, que cultiva há mais de duas décadas, em um negócio de produção de citros que teve início com o pai. “A gente sente a queda de produção nos últimos anos. Em safras anteriores colhia 100 toneladas por hectare de poncã, agora colhemos 50 toneladas”, conta o produtor.

Carlos comenta que além do greening, as adversidades climáticas que afetaram a agricultura nos últimos anos também causaram danos à produção de tangerina poncã e de outros citros. “Aqui investimos para colhermos um fruto de qualidade. O custo de produção é alto, mas temos que acreditar que vai dar tudo certo com as colheitas”.