Remédio para disfunção erétil se torna febre nas academias

Remédio para disfunção erétil se torna febre nas academias
Tadalafila, indicado para disfunção erétil ou tratamento de sintomas de hiperplasia prostática benigna em homens adultos tem se tornado pré-treinos em acadêmias (Freepik)

 

Utilizado para tratamento da disfunção erétil e também da hiperplasia prostática benigna (aumento da próstata) em homens adultos, o medicamento tadalafila ganhou uma nova função que tem sido difundida nas redes sociais: pré-treino para atividades físicas, como musculação. A prática, no entanto, acendeu um alerta entre médicos.

A médica endocrinologista Mariana Mendes, professora da Faculdade de Medicina Faceres, explica que não há nenhuma relação entre o uso do remédio e a melhora no desempenho durante os exercícios físicos. “A nova moda do uso da ‘tadala’, como é popularmente chamada, como pré-treino se baseia supostamente na vasodilatação provocada pelo medicamento, que aumentaria o fluxo sanguíneo e melhoraria o desempenho nos treinos. Porém, vale salientar que o efeito vasodilatador ocorre na musculatura lisa, e não na musculatura estriada. Ou seja, não há efeito no desempenho esportivo”, afirma a especialista.

A médica ainda ressalta o perigo de utilizar a medicação como pré-treino. “A pessoa pode ter riscos sérios para a saúde, como dor de cabeça, queda de pressão, dor nas costas, hipotensão postural (queda de pressão ao mudar de posição), tontura, falta de ar, entre outros sintomas, além de efeitos mais graves, como o infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e morte súbita. Em alguns casos raros, pode até mesmo causar alterações na visão e audição”, conclui a endocrinologista.

Sem relação

O personal trainer rio-pretense Matheus Fioroti, especialista em emagrecimento e hipertrofia, afirma que, mesmo se tratando de um medicamento que promove a vasodilatação — ou seja, o aumento do calibre dos vasos sanguíneos —, não há qualquer relação com a hipertrofia, que é o aumento do volume muscular.

“Não indico o uso, pois não há indicação clínica. Além disso, esse suposto aumento de performance pode ser obtido com outros produtos, como a cafeína, que é muito mais segura”, explica o personal.

Para Matheus, o principal responsável por essa tendência do uso da tadalafila como pré-treino é a web. “Na internet, temos muita informação boa, mas também muita informação ruim. A busca por resultados rápidos e com o mínimo de esforço faz com que propostas milagrosas sejam adotadas, levando as pessoas a deixarem de pesquisar ou buscar orientação profissional para encontrar a opção mais saudável e adequada”, conclui.

Bala proibida

Devido ao sucesso da tadalafila propagada como pré-treino, empresas aproveitaram para lucrar com a composição criando as famosas gummys (balas gelatinosas) com o composto.

No último dia 14 de maio, uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), publicada no Diário Oficial da União, proibiu a comercialização, a distribuição, a fabricação, a manipulação, a propaganda e o uso de todos os lotes do medicamento Metbala, à base de tadalafila, da empresa FB Manipulação Ltda.

Em nota, a agência reguladora informou que a medida foi adotada porque o produto em questão, uma bala do tipo gummy, não tem qualquer tipo de regularização junto à Anvisa.

“Além disso, a empresa identificada não tem autorização da Anvisa para fabricar medicamentos”, completou o comunicado.

A proibição, segundo a agência, também se aplica a qualquer pessoa, física ou jurídica, ou veículos de comunicação que comercializem ou divulguem o produto.

“De acordo com a legislação, medicamentos só podem ser comercializados por farmácias e drogarias e precisam estar registrados na agência. O registro é a comprovação de que o produto possui eficácia, segurança e qualidade”, destacou a Anvisa.

(Colaborou Diego Bressant, com informações da Agência Brasil)