Casal com cinco filhos mora em barraco feito de lona e bambus para conquistar a casa própria

Casal com cinco filhos mora em barraco feito de lona e bambus para conquistar a casa própria
Ana Lúcia com os cinco filhos na casa improvisada com bambus e lona (Guilherme Baffi 26/4/2024)

“Apareceu uma oportunidade de comprar um terreno, com pagamento parcelado, não precisava de nome limpo e nem comprovante de renda, então arriscamos, e estamos aqui.” E foi tomando esse risco que a pernambucana Ana Lúcia Levi Nóbrega, de 30 anos, e o mineiro Cristiano Freitas Garcia da Cunha, de 33, conseguiram se desvencilhar do aluguel. Mas, para concretizar esse sonho, eles passam por uma situação em que muitas pessoas nem se imaginam: com cinco filhos, a família de sete pessoas mora em um barraco feito de bambu e lona.

Há sete anos, o casal luta para ter a casa própria. Mesmo sem o apoio da família e trabalhando bastante – ela como garçonete e autônoma à noite, ele como pintor durante o dia –, Ana Lúcia e Cristiano chegaram a Rio Preto em agosto de 2023 e moravam de aluguel no Parque da Cidadania, até que eles viram a oportunidade de mudar o próprio cenário. “Meu marido conheceu uma moça no terminal de ônibus que estava vendendo um lote no Jardim Campo Belo. Pensamos ‘vamos ver no que vai dar?’, então pagamos R$ 1 mil de entrada e parcelamos o resto”, conta Ana.

Três meses depois, o lado financeiro começou a ficar pesado para o casal: eles já tinham o projeto do imóvel aprovado na prefeitura, mas comprar materiais de construção e manter as contas em dia ao mesmo tempo havia se tornado uma tarefa complicada. Quando decidiram fazer uma limpeza no terreno, Ana e Cristiano perceberam que havia uma parte cimentada no local, e foi a partir daí que surgiu a ideia de erguer o barraco para que pudessem economizar ao saírem do aluguel.

improviso

Com lonas e bambus, eles pesquisaram na internet como montar o abrigo e se mudaram em fevereiro deste ano. Mesmo sem luz, saneamento básico e expostos a todo tipo de risco – de segurança e até mesmo ao calor ou chuvas intensas –, o mineiro e a pernambucana se agarraram à certeza de que dias melhores chegariam.

Ajuda

E chegaram mesmo. Duas semanas após a família ter se instalado no terreno, a corretora de imóveis Ana Ancheta soube da história do casal por meio de amigos da igreja que frequenta. Sensibilizada pelo caso, ela e o colega André Molaz, proprietário de uma loja de materiais de construção, decidiram iniciar a obra. “Eu vendo imóveis de alto padrão, e quando vi a situação da família, uns com tanto e outros com nada, lutando para ter um teto, fiquei comovida”, explica a consultora.

“Ganhamos bastante material, inclusive o telhado, mas também estamos comprando várias coisas, pagando a mão de obra, acompanhando tudo de perto. Nós fizemos uma vaquinha on-line, recebemos ajuda de clientes e parceiros, só que ainda temos um longo caminho pela frente”, complementa Ana.

Obra

A construção começou pelos fundos do terreno, no início de abril, e os primeiros cômodos a serem preparados são a sala, a cozinha e o banheiro. Quando estes ambientes ficarem prontos, a família será realocada e a segunda parte da obra será focada em desmontar o barraco para construir os quartos e outros banheiros com a ajuda recebida. Ainda não há uma data certa para a conclusão da obra, mas a corretora acredita que em até três meses a primeira etapa fique pronta, e ressalta que todo o processo depende de doações.

O trabalho duro não fica só para os pedreiros, o casal também arregaça as mangas e ajuda como pode. Quando Cristiano chega do trabalho, às 17h, ele carrega o material deixado na calçada para dentro do lote, cava buracos e abre alicerces, enquanto a esposa, durante o dia, faz o almoço, lava a betoneira e ajuda no transporte de tijolos. (Colaborou Nathália Gomes)