Chico Bento ganha história sobre ancestralidade e memória em “Viola”, de Orlandeli

O caipirinha mais famoso dos quadrinhos no universo de Mauricio de Sousa ganha uma nova e emocionante história pelas mãos do cartunista, ilustrador e quadrinista Walmir Orlandeli, de Rio Preto.
Depois de “Arvorada” (2017) e “Verdade” (2022), “Viola” é a terceira HQ com Chico Bento que o artista lança em parceria com a Mauricio de Sousa Produções (MSP) e a Panini Comics. A obra foi lançada nesta semana na Bienal do Livro do Rio de Janeiro.
“O convite veio porque onde cabem dois, cabem três, né? (risos). É que a trilogia é algo importante e também pelo fato dos dois primeiros livros terem ido muito bem. O ‘Arvorada’, principalmente, é muito celebrado, muito adotado em escolas, existe até grupo de estudo sobre o ‘Arvorada’. É um livro muito emblemático, pois busca explicar várias coisas. Aqui na Bienal mesmo, teve um dia escolar e algumas professoras vieram falar que estão trabalhando ‘Arvorada’ na sala de aula. Acho que por conta dos dois livros terem ido super bem, estamos com o ‘Viola’ agora”, conta Orlandeli.
Para o autor, o convite para a primeira HQ trouxe muita responsabilidade. “Pensei, poxa, estou trabalhando com um universo que não é meu. Além disso, não é um universo qualquer, é o universo do Mauricio de Sousa. Hoje, eu me sinto muito à vontade de trabalhar com o Chico Bento.
Penso que é muito legal essa sensação de ficar à vontade com um personagem tão emblemático e a confiança que o Mauricio e o estúdio têm nas histórias que vou fazer. É como se você desse o filho para outra pessoa cuidar”, ressalta.
VIOLA
Segundo o quadrinista, o tema surgiu ao buscar algo inédito sobre o personagem. “Nas pesquisas que eu comecei a fazer, lembrei que não tinha visto nenhuma história com o avô do Chico Bento. Quando se fala de interior, você pensa um pouco na ancestralidade, na família mais próxima. Descobri na ‘Enciclopédia da Mônica’ que o avô do Chico Bento faleceu antes dele nascer. Isso já me chamou muita atenção, porque o Chico Preto não conhecia o avô dele. Aproveitei para conversar com o Sidney Gusman, que é o editor do universo HQ da MSP, para perguntar se já Atinham feito alguma história com o avô do Chico Bento, se ele apareceu em algum momento. A única coisa que ele sabia do avô do Chico Bento é que o nome dele era Firmino”, recorda.
Essa era a informação que Orlandeli precisava para que sua mente criativa pudesse mais uma vez mergulhar no mundo do personagem. “Aí ficou uma folha em branco para eu fazer o que eu quisesse, pois própria graphic dá um pouco dessa liberdade de criar em cima do universo Mauricio. Assim, eu quis aproximar o Chico Bento desse avô que ele nunca conheceu em vida”, conta.
Segundo o quadrinista, a história se desenvolve a partir da viola e de sua importância no universo caipira. “Penso que a viola é muito emblemática para o universo do interior. Na história, Chico Bento descobre que seu avô foi um grande violeiro, um dos melhores da região”, diz.
“Ele fica encantado com a descoberta de ter um avô que tocava moda caipira, que fazia composições e ganha a viola que foi do avô de presente. Porém, a viola só tem um par de cordas. Por meio da aproximação que ele vai ter com a viola e com a com as músicas que o avô tocava, ele vai conhecer um pouco mais desse avô que ele não conheceu em vida”, completa Orlandeli.
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL
Outro rio-pretense também participa de “Viola”: o crítico de arte e jornalista Romildo Sant’Anna assina a quarta capa da HQ.
“Chamei o Romildo Sant’Anna, porque ele é um cara da cidade que sempre preservou o legado da arte caipira. Além disso, ele tem um livro chamado ‘A Moda é Viola’. Como a HQ chama-se ‘Viola’, seria até uma falta de respeito não chamar o Romildo, porque ele é um cara que sempre esteve envolvido com o estudo desse instrumento tão importante na nossa cultura”, explica Orlandeli.
Para o quadrinista, é muito gratificante ter sua terceira história com o selo da MSP. “Aqui, na Bienal do Rio de Janeiro, muitas vezes pessoas chegam na mesa e falam que deram a história de presente para amigos ou familiares. Isso é o que realmente conta, que as histórias sejam lidas, apreciadas e que elas ecoem por. Eu me sinto bem realizado como quadrinista em ver minhas histórias circulando, acho isso muito bacana”, conclui Orlandeli.