O adeus ao homem que sabe o que diz

O adeus ao homem que sabe o que diz
Vislei Bossan (Arquivo Pessoal)

Morreu na madrugada da quarta-feira, dia 21, aos 79 anos, o jornalista e radialista rio-pretense Vislei Bossan, famoso pelo pseudônimo Mário Luiz.

Bossan era casado há 60 anos com Vera Lúcia de Sá Bossan e teve dois filhos, Juliane de Sá Bossan e Alessandro Bossan.

Segundo o filho, o jornalista estava em tratamento de um câncer há dois anos e a doença se agravou nos últimos seis meses.

CARREIRA

Vislei Bossan atuou de 1976 a 1992 no Diário da Região, onde foi diretor de redação e comandou a transição do jornal da composição a chumbo para o offset. Na rádio Diário 89,9, ele atuou como diretor de jornalismo, de 1987 a 1990.

“Mário Luiz é meu ‘pai’ no jornalismo. Aprendi quase tudo com ele, junto com uma equipe composta por profissionais do gabarito de Mário Soler, José Luís Rey, lá nos anos 80. Íntegro, exigente e justo, dava atenção e oportunidade aos mais novos e, ao mesmo tempo, tinha uma relação de liderança e de parceria com os mais experientes. Respeitoso, nunca se achou dono da verdade. Homem do diálogo, do bom senso, um agregador”, recorda o jornalista Milton Rodrigues.

Simultaneamente a essa liderança, ele foi um dos mais importantes cronistas esportivos do Diário em todos os tempos. Assinou colunas intituladas “Mário Luiz sabe o que diz” (em alusão ao slogan que usava também como comentarista da Rádio Independência) e “Gol de Letra” (criada quando o Diário inaugurou o offset).

PSEUDÔNIMO

Segundo o livro “Roberto Toledo: nas ondas do rádio”, escrito pelos jornalistas Cecília Demian, Ester Mendonça e José Luis Rey, foi na rádio Difusora que Bossan ganhou o nome artístico de Mario Luiz, dado por Nelson Antonio e Egydio Lofrano, que achavam que Vislei Bossan tinha pouca sonoridade para o rádio.

“A solução veio na mistura dos nomes de Mário Moraes e Pedro Luiz, dois locutores da rádio Bandeirantes em São Paulo, famosos na época. Já o slogan ‘comentarista que sabe o que diz’, foi criado pelo locutor Nelson Luiz, durante uma transmissão”, diz o livro.

RÁDIO

O nome e slogan se tornaram a marca registrada de uma longa carreira que deslanchou a partir de sua contratação pela rádio Independência AM, em 1965. “Na rádio Independência, o comentarista Mário Luiz era o pesadelo de cartolas que saíam da linha. O que o Mário falava na rádio e escrevia no jornal repercutia por todos os cantos”, destaca Rodrigues.

Sem dúvida, a sua postura crítica certeira contribuiu para que o América, por exemplo, vivesse anos de ouro, como em 1978 e em 1980, quando disputou até a elite do Brasileirão, e as brilhantes campanhas no Paulistão dos anos 80 e 90.

Rodrigues recorda que a postura combativa e corajosa rendeu alguns perrengues nos anos 1980. “A diretoria do América chegou a proibir as equipes do Diário e da Independência de entrar no velho estádio Mário Alves Mendonça. Proibição que perdurou um tempo, mas a Justiça mandou liberar, resultado do trabalho de retaguarda feito pelo Dr. Luiz Roberto Ferrari, advogado do Diário”, conta.

“O Mário era muito respeitado e também ‘temido’, no bom sentido. Não é por acaso que até hoje ele é lembrado. Em alguns momentos de maior tensão, o Mário foi ameaçado covardemente por anônimos que ligavam para o telefone da casa dele, na madrugada, dizendo coisas absurdas, ameaças de morte. Coisa de bandido mesmo. E o Mário nunca recuou”, ressalta.

HOMENAGEM

No dia 1º de julho deste ano, o prefeito Edinho Araújo fez uma homenagem a Vislei Bossan ao entregar uma placa ao seu filho, Alessandro Bossan.

Participaram da homenagem o vice-prefeito, Orlando Bolçone; o presidente da Câmara, Paulo Pauléra; o secretário de Governo, Jair Moretti; de Obras, Israel Cestari; e de Comunicação, Luis Fernando China; o chefe de gabinete, Zeca Moreira; os jornalistas Mário Soler, José Luiz Rey, Adib Muanis Jr. e José Pereira Brito, representantes do Instituto Espírita Francisco de Assis e amigos de Vislei Bossan.

“Meu pai foi um jornalista, radialista, religioso e um homem muito íntegro e reconhecido pela moral em todos os lugares que conviveu. Na homenagem que recebeu na prefeitura, todos falavam isso dele”, conclui Alessandro Bossan.