Prêmio Literário Cartas reúne 38 textos e entrega quatro cartas a músicos

Prêmio Literário Cartas reúne 38 textos e entrega quatro cartas a músicos
Concurso reafirma a carta como gesto íntimo e gênero literário em tempos de mensagens rápidas - Freepik/Banco de Imagens

O gesto antigo de dobrar uma folha de papel, selar um envelope e confiar que um pedaço íntimo da alma chegaria intacto ao outro lado do mundo volta à cena no Riopreto Shopping. Neste sábado, 6, às 16h, o Prêmio Literário de Cartas lança sua antologia com 38 textos selecionados e inaugura também uma exposição com totens que exibem trechos das cartas premiadas. A iniciativa, criada e organizada pela professora Rosalie Gallo y Sanches, pretende reavivar a tradição epistolar como um lugar possível de pausa, delicadeza e profundidade.

O livro, publicado pela editora Serifa, reúne cartas endereçadas a um destinatário muito particular: um cantor ou compositor — critério que guiou esta segunda edição.

O concurso destacou cinco finalistas. “O primeiro lugar receberá o Troféu Monteiro Lobato. O segundo e o terceiro lugares receberão taças, já o quarto e o quinto lugares receberão medalhas”, afirma a organizadora.

A escolha pelo universo da música teve propósito definido. “Escolhemos cantor e não artista em geral para focalizar a música. Assim, numa próxima edição, podemos escolher pintores, entre outros artistas. Enfim, cada edição vai contemplar uma das artes e da cultura nacional e internacional. A terceira edição, no ano que vem, a carta será para um professor significativo na vida pessoal do remetente”, diz Rosalie.

CARTAS ENTREGUES

Algumas das cartas chegaram efetivamente às mãos dos homenageados. “Entregamos uma carta para o Almir Sater, através da empresária dele. Entregamos outra para o Alceu Valença, através da diretora de eventos do SESI, quando ele esteve em Rio Preto para fazer um show. Entregamos uma para o Milton Nascimento, através do Borges, irmão do Lô Borges - que faleceu recentemente”, conta.

Outra entrega simbólica marcou o grupo. Desta vez, ao tenor italiano Andrea Bocelli, entregue através da presidente do fã clube dele, uma médica que mora em Sorocaba. “Ela foi de uma gentileza muito grande, de uma generosidade ímpar e a gente tem muito que agradecer, porque ela entregou em mãos para o Andrea Bocelli um exemplar do livro, com a tradução da carta já impressa em italiano, para que alguém pudesse ler para ele e junto estava um pendrive com a gravação da carta, feita pela própria autora da carta, a doutora Vera Mussi Hage. Então, para nós, foi uma alegria muito grande ter conseguido entregar essas quatro cartas”, relata.

O PRÊMIO

A proposta do prêmio nasceu do desejo de recuperar uma forma de expressão afetiva que resiste ao imediatismo das redes. “Resolvi criar esse prêmio porque acredito que a carta ainda é uma forma que a pessoa tem de expor com mais profundidade os sentimentos dela. Algumas participações me fizeram chorar, porque, quando a pessoa escreve uma carta, ela coloca para fora o que tem dentro”, diz Rosalie.

Para ela, a carta ganhou outro lugar no mundo contemporâneo. “A carta adquiriu um caráter literário, ela não é mais só um meio de comunicação entre a pessoa ela virou um gênero literário. Um concurso assim é uma forma de resgate duplo. O primeiro é esse regaste do sentimento e, em segundo lugar, é o resgate da escrita. Acho isso importante. Essas duas cúmplices de resgate vão obrigar a pessoa a pensar para escrever, a deixar aberto o coração, aberta a veia do sentimento e isso é como se fosse uma pausa da vida moderna. Minha intenção é essa, propor uma pausa literária, porque quem vai escrever vai ter que pensar. A pessoa que vai escrever, na hora que soltar as emoções, vai escrever melhor”, conclui.