Empresário rio-pretense é investigado por golpe em 43 mil sócios e clientes

Empresário rio-pretense é investigado por golpe em 43 mil sócios e clientes
Em revista, em meio a várias celebridades, empresário é apresentado como jovem empreendedor prodigioso - Reprodução

A Polícia Civil investiga um empresário de Rio Preto, proprietário da franquia de 200 clínicas de depilação Laser Fast, espalhadas pelo Brasil, acusado de aplicar golpes em 43 mil pessoas, entre clientes do serviço e investidores da empresa. A pedido do Ministério Público Federal, ação de interesse coletivo, movida no Distrito Federal, levou ao confisco judicial de R$ 28 milhões em bens do acusado para garantir o ressarcimento das vítimas. Há indícios de que ele pode ter deixado o País.

As denúncias contra as empresas de estética começaram a aparecer em maio, segundo o delegado Renato Camacho, responsável pelo caso na Divisão Especializada em Investigações Criminais (Deic) de Rio Preto. Ele afirma que as primeiras informações só chegaram à unidade após o registro de boletins de ocorrência feitos por clientes que se sentiram lesados.

“As denúncias chegaram ao nosso conhecimento agora, mas os boletins de ocorrência são mais ou menos do mês de maio”, afirmou. “A maioria das vítimas são pessoas que compraram pacotes de serviços e não foram atendidas. Pouco tempo depois, a clínica aqui de Rio Preto fechou, sem devolver dinheiro. Sem alternativa, as vítimas começaram a registrar boletins de ocorrência. Ao perceber a quantidade de queixas contra a mesma empresa, resolvemos juntar tudo em um inquérito”, explicou o delegado.

O advogado Dário Azenha de Lima move ação na 9ª Vara Cível do Foro de Rio Preto contra o acusado e suas empresas, em nome de um homem que comprou um pacote de depilação no valor de R$ 1,6 mil, mas não teve o serviço prestado.

“Meu cliente havia contratado, em 2022, o serviço de eliminação total dos pelos em algumas regiões do corpo. Antes de cumprir com o contrato, a Laser Fast fechou. Não devolveram o dinheiro. Ele tentou receber o valor de volta, mas não foi atendido. Por isso, resolvemos entrar com a ação”, explicou o advogado.

“Verificamos que existem pessoas que investiram na empresa”, acrescentou o delegado.

Segundo o delegado Fernando Tedde, coordenador da Deic de Rio Preto, além dos clientes das clínicas, a Polícia Civil também foi procurada por pessoas, muitas vindas de outros estados, para registrar boletins de ocorrência pelo sumiço do dinheiro investido em supostas ações da rede Laser Fast, com promessas de alto retorno financeiro.

“Ele oferecia aos investidores a possibilidade de aplicar dinheiro em troca de um percentual do lucro de cada loja. Durante algum tempo isso funcionou, e depois durou bastante tempo”, afirmou o delegado.

De acordo com Tedde, quando a empresa começou a enfrentar dificuldades financeiras, o idealizador manteve as ofertas mesmo sabendo da possibilidade de quebra. “Ele passou a usar esses recursos oferecendo pacotes e investimentos mesmo já tendo ciência de que a empresa ia quebrar. Arrecadou dinheiro de clientes e de investidores e, em determinado momento, abandonou a empresa, fechou tudo e fugiu. Isso gerou um grande prejuízo a um grande número de pessoas do país todo”, disse.

43 MIL

A Polícia Civil já contabiliza 43 mil denúncias em todo o Brasil, mas o valor total do prejuízo ainda não foi calculado. “São vítimas de vários estados. Sabemos que passa de milhões, porque muitos investidores aportaram valores altos, acima de R$ 100 mil ou R$ 150 mil”, afirmou o delegado.

O empresário residia em Rio Preto, em condomínio de alto padrão na zona sul, mas deixou a cidade há meses. “Ele mantinha residência aqui, ainda em seu nome, mas há indícios de que esteja fora do País, provavelmente nos Estados Unidos”, disse Tedde.

A investigação segue em fase de coleta de depoimentos e análise de documentos enviados pelas vítimas, inclusive após a repercussão da reportagem. “Estamos ouvindo essas pessoas e reunindo provas. A investigação vai avançar para pedidos de quebras de sigilo bancário e fiscal, buscando comprovar as fraudes cometidas”, explicou o delegado.

A loja da rede em Rio Preto já está fechada e os funcionários não receberam direitos trabalhistas, segundo a polícia. “Os trabalhadores também foram prejudicados. Há boletins de ocorrência dessa natureza”, afirmou.

CRIMES

Os crimes investigados incluem estelionato simples, estelionato qualificado por fraude eletrônica e, possivelmente, associação criminosa ou organização criminosa. Sobre eventual pedido de prisão preventiva, Tedde afirma que ainda é cedo. “Estamos na fase de apuração. Mas, se ele não aparecer, não constituir advogado e não oferecer meios de ser localizado, provavelmente será pedida a prisão.”

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), por meio da Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor (Prodecon), obteve decisão favorável em processo contra a empresa Laser Fast Depilação Ltda., a G Fast Investimentos Ltda. e o sócio-administrador. O MPDFT acusa a empresa de suspender os serviços de depilação a laser sem oferecer o devido ressarcimento aos consumidores, configurando grave violação dos direitos do consumidor.

Destaque na revista Forbes

 

Antes de ser alvo de investigação policial e ações judiciais, o fundador da rede de clínicas de depilação a laser chegou a ser listado pela revista Forbes entre os 30 empresários jovens mais ricos do Brasil.

Nas redes sociais, o investigado tem 945 mil seguidores para suas 1.974 publicações, a maioria focada em frases de efeito sobre a importância do empreendedorismo, como “Com esse mindset, ninguém te impede de prosperar financeiramente” ou “Talvez o segredo não esteja no que você vende, mas em como você vende”. Curiosamente, a maioria dos comentários nas postagens não é visível, e apenas elogios aparecem publicados.

No YouTube, o empresário também concede entrevistas em podcasts como exemplo de sucesso no empreendedorismo, onde narra sua trajetória de profissional contratado que ganhava R$ 5 mil por mês até se tornar dono de uma rede de franquias. Em vários depoimentos, ele se apresenta como uma espécie de coach de investimentos financeiros.

O Diário tentou entrar em contato com advogados que representem o empresário, mas eles não foram encontrados para esclarecer as suspeitas. Além das acusações de estelionato simples e qualificado, o empresário também é processado na Justiça do Trabalho por falta de pagamento a ex-funcionários de suas 200 clínicas.