Golpe via Pix na região faz 20 mil vítimas no ano e desvia R$ 200 milhões
Em alta na região de Rio Preto, golpes aplicados por meio de transações Pix já ultrapassam 20 mil registros em 2025. Dados da Secretaria de Segurança Pública indicam que, até 4 de dezembro, o Deinter-5 acumulava 20.558 estelionatos, dos quais 8.890 ocorreram na cidade. O número supera o total dos últimos dois anos e confirma a escalada das fraudes digitais. Anualmente, as quadrilhas chegam a lucrar R$ 200 milhões por meio do estelionato eletrônico na região.
O delegado seccional de Rio Preto, Everson Contelli, explica que, apesar do termo popular “golpe do Pix”, não existe uma modalidade única, mas em todas as situações criminosas o Pix é utilizado para escoar o dinheiro retirado das vítimas.
“O que constatamos é que quase a totalidade dos golpes ocorre por meio de transação Pix. Hoje, mais de 90 por cento dos estelionatos são dessa forma [na região]”, afirmou.
Segundo o delegado, o principal desafio da polícia é a recuperação dos valores, porque os criminosos mandam inicialmente o dinheiro para uma conta bancária criada, com documentos falsos, apenas para receber o dinheiro do golpe, depois pulverizam a quantia em dezenas de contas bancárias ligadas ao bando.
“Com o Pix, tudo ficou mais ágil. Quando fazemos o pedido de bloqueio, o dinheiro já não está mais na conta. Ele vai sendo transferido para contas subsequentes e, quando chega na última, às vezes já percorreu mais de 200 CPFs. É uma verdadeira pirâmide”, disse Contelli.
O delegado seccional calcula que o prejuízo médio por vítima em 2025 é de R$ 11 mil na região, valor muito acima do observado em crimes patrimoniais tradicionais. “Nós temos casos de pessoas que perderam R$ 5 mil, outras R$ 10 mil, mas também muitas vítimas que perderam R$ 50 mil ou R$ 100 mil. É a média mais alta entre os crimes patrimoniais”, afirmou.
A região está na quinta fase da Operação Cyberconnect, voltada à repressão de golpes digitais em larga escala. “Só no projeto Cyberconnect já passamos de 150 presos”, afirmou Contelli.
Além da operação estruturada, as delegacias da região realizam prisões semanais. “Tem se tornado frequente. Só nos últimos dias tivemos oito presos fora da operação principal”, disse.
os golpes
Principais golpes que utilizam transações via Pix
Falso gerente de banco – considerado o golpe mais lesivo atualmente, no qual o criminoso convence a vítima de que há problemas na conta, compras indevidas ou ataques, obtendo senhas e acesso ao aplicativo.
Falso advogado – semelhante ao anterior, com pedidos urgentes de valores em nome de supostos processos ou fianças.
Falso sequestro – com prejuízo médio menor, mas ainda recorrente, especialmente entre idosos.
Falso presente - Um golpista finge ser moto entregador de um presente, mas exige pagamento de uma taxa pelo serviço. Por meio de maquina de cartão de crédito, ele faz uma cobrança exorbitante.
Falso parente - Em ligação telefônica ou via aplicativo, golpista finge ser um parente em apuro financeiro. Pode píx para pagar um conserto de carro a beira da estrada, mas depois bloqueia após transferência do dinheiro.
Novas regras do Banco Central
O Banco Central (BC) tem implementado novas e aprimoradas regras e mecanismos para combater golpes e fraudes no Pix, com foco em dificultar as ações dos golpistas e aumentar a chance de recuperação dos valores para as vítimas.
O BC tem um sistema que bloqueia proativamente chaves Pix identificadas como utilizadas em golpes e fraudes, impedindo que continuem a ser usadas em atividades ilícitas.
Além disso, foi implantado em novembro deste ano o Aprimoramento do Mecanismo Especial de Devolução (MED), com possibilidade de rastreamento do caminho percorrido pelo dinheiro transferido em casos de fraude, mesmo que o valor passe por várias contas.
O delegado Everson Contelli destaca que a última medida foi sugerida pela Polícia Civil, como uma forma de ajudar na recuperação do dinheiro da vítima.
“A partir do momento em que o dinheiro cai na conta, ele deve ser imediatamente bloqueado. Se não estiver mais nela, que o sistema busque nas contas seguintes. Isso ajuda muito a impedir a pulverização do valor”, explicou.
Contelli defende ainda que contas usadas para crimes possam ser bloqueadas sem necessidade de autorização judicial. “Essas contas são instrumentos do crime. Da mesma forma que o autor pode ser preso em flagrante, essas contas também poderiam ser bloqueadas de forma extrajudicial”, afirmou.

Operações policiais na região de Rio Preto, ao lado, e parte dos materiais apreendidos (acima), envolvendo o uso da ferramenta Pix nas transações

Redação 



