HCM de Rio Preto terá coração artificial para apoio a tratamento de crianças

HCM de Rio Preto terá coração artificial para apoio a tratamento de crianças
Equipamento funciona como coração e pulmão artificiais e auxilia quando os órgãos estão muito fracos (Divulgação)

A CardioPedBrasil, do Hospital da Criança e Maternidade (HCM), está se preparando para ofertar aos pacientes pediátricos, inclusive os do Sistema Único de Saúde (SUS), um importante recurso, já muito bem fundamentado na literatura médica: os corações artificiais, que são decisivos em casos mais graves e ajudam a salvar vidas. A previsão é que as primeiras crianças beneficiadas pela tecnologia em Rio Preto sejam atendidas ainda neste ano.

"Os corações artificiais são aparelhos mecânicos capazes de bombear o sangue pelo corpo do paciente, quando o coração está muito fraco", explica a médica Carolina Campos, cardiointensivista pediátrica e coordenadora do serviço de ECMO e assistência circulatória da CardioPedBrasil, serviço do HCM.

Segundo a especialista, o mais utilizado é justamente o ECMO - sigla para oxigenação por membrana extracorpórea, que se tornou mais conhecido durante a pandemia de Covid-19, mas é um aliado na medicina há muito tempo. "É uma máquina capaz de fazer o papel do coração e do pulmão ao mesmo tempo, enquanto estes órgãos se recuperam. Entretanto, ele tem uma duração limitada", pontua Carolina.

O tempo varia para cada paciente, mas pode levar de horas a dias. Para quem precisa de suporte por mais tempo, existem outros dispositivos capazes de durar meses ou até anos. "Existem relatos na literatura de pacientes que ficaram meses, mas o ideal quando se fala de pós-operatório de cirurgia cardíaca é até 15 dias", diz a médica.

Carolina destaca que os corações artificiais são capazes de salvar a vida de pacientes com insuficiência cardíaca avançada, permitindo, por exemplo, que ele ganhe mais tempo até conseguir um transplante cardíaco. "Por causa da escassez de doadores de órgãos, em especial na pediatria, o tempo de espera por um transplante em geral é alto e muitos pacientes não resistem e morrem", lamenta a médica. "O coração artificial é capaz de permitir que o paciente tenha mais tempo de espera ao manter o fluxo de sangue para os outros órgãos do corpo, evitando a disfunção de múltiplos órgãos, uma situação na qual o paciente deixa de ser candidato ao transplante cardíaco"

Recursos

O uso de algum destes suportes não é corriqueiro. "O coração artificial pode ser indicado para pacientes com insuficiência cardíaca avançada que não responderam aos tratamentos clínicos e cirúrgicos. Quando medicações e cirurgias não são capazes de manter o coração funcionando adequadamente, ele pode manter o fluxo de sangue pelo corpo do paciente, evitando que outros órgãos, como rim e cérebro, sofram com a falta de oxigênio e nutrientes", explica Carolina.

Esta também pode ser uma alternativa para depois de cirurgias cardíacas - a CardioPedBrasil é um centro de referência nacional, tendo operado mais de 7 mil crianças. Depois do procedimento, a tendência é que o coração se recupere em alguns dias e a máquina possa ser retirada.

Giovana Broccoli é cardiologista pediátrica do Hcor, em São Paulo, onde o tratamento já é oferecido para os pequenos pacientes. Ela esclarece que o suporte circulatório não é um tratamento, ou seja, não é ele que soluciona a cardiopatia. "O objetivo é possibilitar o tempo necessário para a recuperação do coração e do pulmão, por meio da redução de medicação e de ventilação, que podem ser agressivos em pacientes graves", diz.

Os dispositivos podem ser utilizados desde o nascimento até a fase adulta. A contraindicação seriam os bebês muito pequeninos e prematuros, com menos de 2 quilos, pela falta de equipamentos disponíveis.

Estrutura

Não são todos os hospitais que têm estrutura para ofertar algo do tipo. É preciso ter os recursos financeiros para adquirir os equipamentos e uma equipe multidisciplinar treinada (com médicos, profissionais de enfermagem, perfusionistas, fisioterapeutas, especialistas em suporte circulatório e equipe de cardiologia, nefrologia, hematologia, cirurgia pediátrica e cardiovascular). "É importante também que a instituição hospitalar tenha o suporte apropriado de diagnóstico de imagem, engenharia clínica e banco de sangue", ressalta Giovana.

O Hospital de Base possui um equipamento, mas que atende apenas pacientes adultos.

O dinheiro para a compra do equipamento do HCM foi arrecadado em eventos e o processo de compra deve ser iniciado em breve. "Acreditamos que até o final do ano o tratamento já estará disponível para nossas crianças", diz Carolina.