Anvisa aprova vacina antidengue testada em Rio Preto

Anvisa aprova vacina antidengue testada em Rio Preto
Helencar Ignácio, diretor da Famerp, e Maurício Nogueira, virologista, coordenador local da pesquisa - Marco Antônio dos Santos 26/11/2025

A Anvisa apresentou nesta quarta-feira, 26, parecer favorável à segurança da primeira vacina de dose única contra a dengue, desenvolvida pelo Instituto Butantan. O imunizante foi testado ao longo de nove anos em 1,1 mil moradores da Vila Toninho, durante pesquisa coordenada pela Faculdade de Medicina de Rio Preto (Famerp). Com a conclusão da análise técnica, o Ministério da Saúde fará a inclusão da vacina no calendário nacional, com oferta exclusiva pelo SUS.

A expectativa é que a Butantan-DV seja incorporada ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) para uso inicial em pessoas de 12 a 59 anos. Nos próximos dias, o Ministério deve definir se Rio Preto, que enfrenta uma epidemia de dengue, estará entre as primeiras cidades a receber o novo imunizante.

A vacina é tetravalente e protege contra os quatro sorotipos da dengue, incluindo o tipo 3, considerado o principal responsável pela epidemia de 2025. Hoje, a rede pública oferece a vacina Qdenga, aplicada em crianças e adolescentes de 10 a 14 anos.

Coordenador da pesquisa em Rio Preto, o virologista Maurício Lacerda Nogueira, da Famerp, afirma que a proteção coletiva também se estabelece quando parte da população é imunizada. “Quando muita gente se vacina, a circulação do vírus cai. Isso ajuda também quem não pode tomar a vacina”, disse.

Nogueira explicou que os 1.100 voluntários do estudo foram vacinados, inclusive os que haviam recebido placebo. Ele destacou ainda que o imunizante mostrou alta eficácia entre pessoas que já tiveram dengue. “Quem já teve dengue tem uma resposta ainda melhor. A eficácia chega a 97% contra o tipo 1 em pessoas previamente expostas”, afirmou.

Sobre os quatro sorotipos, o pesquisador lembrou que não houve circulação significativa dos tipos 3 e 4 durante o período do estudo no Brasil, o que impediu avaliação direta. Entretanto, dados internacionais e análises imunológicas sustentaram o parecer positivo da Anvisa. Ele projeta um impacto profundo na próxima década. “Espero ver, nos próximos 10 a 15 anos, uma queda acentuada nas internações e nos casos graves. Quero poder dizer que existe um mundo pré-vacina e outro pós-vacina da dengue”, disse.

Até o momento, a única restrição formal da Anvisa é para pessoas imunossuprimidas, como pacientes oncológicos em tratamento, pessoas vivendo com HIV com baixa imunidade, transplantados, gestantes, indivíduos com doenças hematológicas e alérgicos à proteína do ovo.

A infectologista Cássia Estofolete, pesquisadora da Famerp e integrante do estudo, classificou a aprovação como um marco para a saúde pública. “É um benefício extremamente grande para a população, um ganho real em termos de saúde e prevenção”, afirmou.

Para a profissional, a chegada de uma vacina eficaz marca uma mudança simbólica no enfrentamento da doença. “Reduzir hospitalizações e a gravidade é fundamental, tanto para quem trabalha na linha de frente quanto para toda a população”, disse.

O secretário municipal de Saúde, Rubens Bottas, afirmou que a aprovação representa “mais uma esperança” no combate à dengue, responsável por mortes e centenas de internações em Rio Preto em 2025. “É mais uma arma que traz esperança no combate a uma doença terrível, que vitimou muitas pessoas e afetou tantas famílias”, disse.

Apesar do avanço, o secretário Bottas reforçou que a prevenção continua sendo determinante. “Noventa por cento dos mosquitos estão nos nossos quintais. Por mais que tenhamos agora a esperança da vacina e por mais que a secretaria trabalhe todos os dias, a população precisa fazer a parte dela”, afirmou.

O secretário declara que Rio Preto registrou queda de casos, notificações e mortes em relação a 2024. Entretanto, a doença, só neste ano, fez mais de 50 mil vítimas na cidade, além de ter causado 40 mortes. No início do ano, o Ministério da Saúde mandou equipe do SUS para ajudar no combate, com Centro de Hidratação no prédio da Swift.

DENGUE 

 

A vacina

Produzida pelo Instituto Butantan

Rio Preto, por meio da Famerp, é um dos centros de pesquisa

Dose única

Protege contra os quatro tipos de dengue (1, 2, 3 e 4)

A Butantan-DV é derivada de uma tecnologia do Instituto Nacional de Saúde Americano (NIH) licenciada em 2009

O estudo

16.235 voluntários em 16 centros de pesquisa brasileiros participaram do estudo

O imunizante foi administrado em 10.259 pessoas, em dose única, e o restante recebeu placebo

Das mais de 10 mil pessoas que receberam o imunizante, apenas três (menos de 0,1%) apresentaram eventos adversos graves, e todos se recuperaram totalmente

O imunizante mostrou 74,7% de eficácia geral, 91,6% de eficácia contra dengue grave e com sinais de alarme e 100% de eficácia contra hospitalizações por dengue

Aplicação

Aprovação da Anvisa é para população de 12 a 59 anos

Estratégia de aplicação ainda será definida pelo Ministério de Saúde

Butantan tem mais de um milhão de doses prontas para serem disponibilizadas ao PNI