Candidatos gastam de 19 centavos a 2,9 mil reais por voto em Rio Preto
Na busca por uma vaga na Câmara de Rio Preto, os vereadores, além de gastar muita sola de sapato e gogó para convencer os eleitores, as campanhas totalizaram, no geral, despesa milionária. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), até esta sexta-feira, 8, 365 candidatos ao Legislativo de 2025 gastaram R$ 5,99 milhões. O "custo por voto" foi de R$ 66,95, em média.
Levantamento do Diário leva em consideração todos os gastos reportados pelos candidatos à Justiça Eleitoral e a quantidade de votos recebidos por eles nas urnas. O prazo para a entrega das contas eleitorais terminou na segunda, 4. O cruzamento de dados revela que o custo mais barato ficou em alguns centavos e o mais caro chega a quase R$ 3 mil, por voto.
A candidatura mais cara de Rio Preto foi de Tânia Moreno, do PSD. A candidata reportou gastos à Justiça Eleitoral de R$ 49,7 mil. Todo o dinheiro veio do Fundo Eleitoral para o Financiamento de Campanha (FEFC), enquanto a maioria dos gastos foi com publicidade por material impresso (59,76%) e atividades de militância e mobilização de rua (40,24%). No entanto, ela recebeu apenas 17 votos, o que conferiu um “custo por voto” de R$ 2,92 mil, o mais caro de Rio Preto.
Tânia não foi a única do partido a fazer parte do grupo dos “gastões”. Outros cinco candidatos da legenda fazem parte do grupo dos 10 candidatos que mais gastaram por voto na eleição, sendo que outra candidata, “Rô da Norte” também superou a barreira dos R$ 1 mil, com um custo por voto de R$ 1,46 mil.
JUSTIFICA
Segundo o primeiro-tesoureiro da legenda em Rio Preto, Igor Gonçalves, as duas candidatas ficaram “chateadas” com o desempenho nas urnas. “Não teve abandono de campanha, mas foi a primeira vez. Acho que foi um pouco de ingenuidade, acreditar muito nos votos prometidos”, conta.
Outro partido que teve candidato a superar a marca dos R$ 1 mil foi o PT, com o candidato Lucas Andrade. O petista recebeu apenas cinco votos. No entanto, segundo a presidente do partido na cidade, Celi Regina, o candidato enfrentou problemas pessoais. “Ele passou por problemas familiares e abandonou a campanha na reta final”, afirmou.
Por outro lado, o voto com o menor custo da última eleição foi do candidato Turati Cabeleireiro, do PSB. Ele obteve 773 votos e reportou apenas um gasto de campanha de R$ 150, totalizando R$ 0,19 por voto.
Eleitos
Já entre os vereadores eleitos, a conta fica menos discrepante, embora haja diferenças significativas. Os vereadores eleitos declararam uma arrecadação de R$ 1,46 milhão e despesas da ordem de R$ 1,31 milhão.
Na média, cada vereador arrecadou R$ 63,48 mil, enquanto gastou um pouco menos, R$ 57,13 mil. O “custo por voto” médio dos eleitos foi bem menor do que a média geral dos candidatos: R$ 15,80 por voto.
O vereador com a maior arrecadação e maior gasto foi João Paulo Rillo (Psol). Foram arrecadados R$ 139,44 mil, enquanto foram gastos R$ 121,31 mil. O custo por voto do psolista, porém, foi um dos menores: R$ 12,17, o 6º menor da campanha para a Câmara. Rillo foi reeleito com a maior votação, com 9.968 votos.
Já o parlamentar com o menor custo foi Bruno Moura, do PRD. Segundo o TSE, o vereador reeleito declarou gasto de R$ 5,9 mil na campanha e obteve 3,3 mil votos, perfazendo um custo por voto de R$ 1,76. Na segunda posição aparece Rossini Diniz (MDB), com um custo de R$ 5,81, e Felipe Alcalá (PL), com "custo" de R$ 6,10.
Já entre os maiores custos dos eleitos está a única mulher: Márcia Caldas (PL). A vereadora, que retorna à casa, declarou uma arrecadação de R$ 117 mil e uma despesa de R$ 108,97 mil. A votação dela foi de 3,7 mil votos, perfazendo um “custo por voto” de R$ 29,04. Entre os três com o custo de voto mais alto estão Jorge Menezes (PSD), R$ 27,88 e Jonathan Santos (Republicanos), com R$ 27,22.
OS DEZ VOTOS 'MAIS CAROS'
Tânia Moreno - PSD
- Votação: 17
- Despesas: R$ 49.700,00
- Despesa por voto: R$ 2.923,53
Rô da Norte - PSD
- Votação: 33
- Despesas: R$ 48.499,00
- Despesa por voto: R$ 1.469,67
Lucas Andrade - PT
- Votação: 5
- Despesas: R$ 5.200,00
- Despesa por voto: R$ 1.040,00
Alessandra Angélica - UNIÃO
- Votação: 75
- Despesas: R$ 50.496,00
- Despesa por voto: R$ 673,28
Nivaldo Da Autoportes - PSD
- Votação: 75
- Despesas: R$ 50.000,00
- Despesa por voto: R$ 666,67
Silvio Cesar - PSD
- Votação: 67
- Despesas: R$ 44.304,00
- Despesa por voto: R$ 661,25
Erines da Lojinha - UNIÃO
- Votação: 78
- Despesas: R$ 50.400,00
- Despesa por voto: R$ 646,15
Ygor Garcia - PSD
- Votação: 83
- Despesas: R$ 48.373,00
- Despesa por voto: R$ 582,81
Jana do Rh - PSD
- Votação: 88
- Despesas: R$ 49.465,40
- Despesa por voto: R$ 562,11
Lilian Sandoval - REPUBLICANOS
- Votação: 65
- Despesas: R$ 34.985,00
- Despesa por voto: R$ 538,23
**Fonte:**TSE
CANDIDATOS ELEITOS
Bruno Moura - PRD
- Despesa por voto: R$ 1,76
Rossini Diniz - MDB
- Despesa por voto: R$ 5,81
Felipe Alcalá - PL
- Despesa por voto: R$ 6,10
Alexandre Montenegro - PL
- Despesa por voto: R$ 6,41
Jean Dornelas - MDB
- Despesa por voto: R$ 9,01
Odélio Chaves - PODEMOS
- Despesa por voto: R$ 10,34
João Paulo Rillo - PSOL
- Despesa por voto: R$ 12,17
Peixão - MDB
- Despesa por voto: R$ 12,18
Bruno Marinho - PRD
- Despesa por voto: R$ 13,30
Abner Tofanelli - PSB
- Despesa por voto: R$ 14,15
Paulo Pauléra - PP
- Despesa por voto: R$ 14,91
Pedro Roberto - REPUBLICANOS
- Despesa por voto: R$ 16,14
Renato Pupo - AVANTE
- Despesa por voto: R$ 16,16
Anderson Branco - NOVO
- Despesa por voto: R$ 16,84
Professor Tadeu - UNIÃO BRASIL
- Despesa por voto: R$ 16,89
Júnior - UNIÃO BRASIL
- Despesa por voto: R$ 16,95
Luciano Julião - PL
- Despesa por voto: R$ 18,01
Alex Do Valdomiro - PSB
- Despesa por voto: R$ 19,69
Cabo Júlio Donizete - PSD
- Despesa por voto: R$ 26,02
Klebinho Kizumba - PL
- Despesa por voto: R$ 26,34
Jonathan Santos - REPUBLICANOS
- Despesa por voto: R$ 27,22
Jorge Menezes - PSD
- Despesa por voto: R$ 27,88
Márcia Caldas - PL
- Despesa por voto: R$ 29,04
Fundão eleitoral financia 79,2% das campanhas
Ainda de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Rio Preto, os vereadores que se candidataram foram “irrigados” majoritariamente pelos recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), ou fundão eleitoral.
Ao todo, foram depositados nas contas dos concorrentes a uma cadeira no Legislativo R$ 6.994.932,81, sendo que R$ 5,54 milhões vieram do fundão, o que representou R$ 79,23% de todo o recurso. No entanto, o repasse entre candidatos foi de R$ 114,19 mil, totalizando 1,63%, elevando este percentual para mais de 80% dos gastos de campanha sendo bancados via dinheiro partidário.
Depois, o recurso de pessoas físicas foi o segundo maior “depositário” das campanhas dos vereadores, totalizando pouco mais de R$ 1 milhão (15,4%). Abaixo, vieram os recursos próprios dos candidatos, que somaram R$ 247,53 mil (3,5%). O financiamento coletivo, modalidade permitida pela Justiça Eleitoral, arrecadou, para os candidatos de Rio Preto R$ 12,37 mil (0,17%) do total.
Segundo o doutor em ciência política pela Unes, Araré Carvalho, o uso em larga escala do fundo eleitoral acaba por criar uma acomodação, por parte dos partidos políticos, em relação ao atual sistema.
“O elevado uso do fundão eleitoral tende a criar um cenário de dependência dos partidos em recursos públicos, o que pode levar a uma distorção. Essa situação muitas vezes favorece candidatos escolhidos pela cúpula partidária e limita a possibilidade de campanhas independentes ou de novas lideranças”, afirma Carvalho.
Outro efeito colateral deste sistema é a falta de renovação política, ligada aos resultados das campanhas eleitorais. “ O partido quer investir nos candidatos mais conhecidos, que podem gerar maior retorno eleitoral. Na prática, o fundão pode transformar campanhas em uma extensão da máquina partidária, dificultando a renovação política”, diz Carvalho.
MULHERES
Outro ponto que chama a atenção do cientista político é sobre as mulheres. Nas eleições deste ano, somente uma vereadora foi eleita, Márcia Caldas (PL). A atual Legislatura conta com duas, Cláudia de Giuli (MDB) e Karina Caroline (Podemos), que não conseguiram a reeleição.
“Quando vemos uma candidata com 17 votos após receber R$ 50 mil, fica claro que os partidos estão mais preocupados em cumprir as exigências legais do que em mobilizar o eleitorado ou apoiar candidatos com real potencial de votos. Isso pode refletir o funcionamento interno dos partidos, onde o acesso ao fundo público está muitas vezes vinculado a questões internas, como acordos e quotas, ao invés de representatividade", afirmou.
FINANCIAMENTO DE CAMPANHA
Recursos de Financiamento Coletivo R$ 12.370,00 (0,17%)
Recursos de outros candidatos R$ 114.190,43 (1,63%)
Recursos de partido político R$ 5.542.357,38 (79,23%)
Recursos de pessoas físicas R$ 1.078.251,95 (15,41%)
Recursos próprios R$ 247.538,05 (3,53%)
Rendimentos de aplicações financeiras R$ 1,83 (0,0%)
TOTAL: R$ 6.994.932,81