Especialistas analisam o impacto que a volta de Trump terá na economia da região de Rio Preto
Donald Trump tomou posse nesta segunda-feira, 20, como o 47º presidente dos Estados Unidos, durante cerimônia na Rotunda do Capitólio. Com o retorno de Trump ao poder, volta também o discurso de políticas comerciais protecionistas que, por um lado, podem favorecer o Brasil nas exportações a outros países, mas afetar o próprio comércio do País com os Estados Unidos.
Discurso
Durante discurso, o presidente dos Estados Unidos comentou a promessa de implementar uma ampla reforma do sistema de comércio internacional. O republicano repetiu que pretende impor tarifas a países estrangeiros com o objetivo de "enriquecer os americanos".
Trump também confirmou plano de criar um Serviço de Receita Externa, órgão análogo à Receita Federal que buscará coletar os tributos cobrados sobre as importações. Segundo ele, a iniciativa trará "grande quantidade de dinheiros" para o Tesouro americano a partir de fontes estrangeiras.
Impactos
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, que é de Rio Preto, afirma que a volta do presidente Trump ao poder nos Estados Unidos deve aumentar um pouco as tensões internacionais. Porém, atualmente, o Brasil possui uma grande parceria com os Estados Unidos no setor de carne bovina.
"No ano passado, exportamos para os Estados Unidos 230 mil toneladas de carne bovina brasileira, um número que deve ser mantido ou até incrementado, considerando o déficit na produção de animais nos Estados Unidos. Eles precisarão buscar suprimentos no país mais próximo com grande capacidade de produção, que é o Brasil", diz Perosa.
Segundo ele, a volta de Trump não deve acirrar a concorrência agrícola entre Brasil e EUA, pois são complementares em muitos aspectos. "O Brasil já possui bastante mercados consolidados, e não vejo um cenário em que essa concorrência agrícola se intensifique entre Brasil e Estados Unidos".
Balança comercial
Na avaliação do presidente da Abiec, a relação entre Estados Unidos e China, a partir de agora, pode, sim, ter algum impacto na balança comercial brasileira, dependendo muito do posicionamento que o presidente Trump adotará em relação à China.
"Precisamos aguardar para entender qual será esse posicionamento. Contudo, o Brasil já é o principal fornecedor de produtos agrícolas para a China, principalmente de carne bovina, e a perspectiva é que continuemos sendo o maior fornecedor de carne bovina para a China nos próximos anos", completa.
Na avaliação da diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Sueme Mori, o Brasil tem condições de ampliar o fornecimento de alimentos para a China e demais destinos, seja a demanda adicional gerada por uma guerra comercial ou por questões climáticas adversas. Mori pondera que a disputa sino-americana pode ser mais crítica em comparação com a primeira fase.
"A composição do governo Trump 2 será diferente do Trump 1 pela situação geopolítica global. Trump volta com maior legitimidade, apoio político interno e liberdade para, inclusive, intensificar uma guerra comercial com a China. Por outro lado, a China mantém uma influência geopolítica muito grande", observou. "Temos de aguardar a chegada de Trump ao governo para ver as medidas implementadas e também como o Brasil vai se comportar nesse cenário. Defendemos o pragmatismo nas relações porque o agronegócio brasileiro vende para o mundo inteiro", argumenta Mori.
Na região
O despachante aduaneiro Márcio Marcassa Jr, da Rio Port, empresa que opera com centenas de empresários da região de Rio Preto na importação e exportação, vê com otimismo a posse de Trump e principalmente a briga comercial que ele deve travar com a China.
"Penso que tudo que foi falado durante as eleições ele vai tirar um pouco o pé agora. Os Estados Unidos precisam da troca comercial. Ele pode até taxar alguns produtos, mas ele pode liberar outros. Trump vai querer trazer um protecionismo maior para as indústrias americanas, acredito que, principalmente, contra a China. E é aí que pode ser uma possibilidade boa para o Brasil, para os empresários brasileiros terem algumas oportunidades de novos negócios", afirma Marcassa.
André Yano, assessor de investimentos, ressalta que, com o discurso de "América forte novamente", Trump deve migrar os investimentos da China para os próprios Estados Unidos. "Uma vez que eles se voltam para dentro, o País mais afetado será a China, porque os Estados Unidos vão deixar de fazer investimento pesado na China e investir mais dentro do País. Vai fortalecer a indústria. Toda ação tem um efeito", diz.
Segundo Yano, a volta de Donald Trump ao poder pode ser positiva para o empresário que exporta na região de Rio Preto. "No caso do Brasil, a gente não acredita que vai ser um movimento ruim, porque nós temos produtos muito competitivos e atuando em áreas em que os Estados Unidos não são tão competitivos assim. Somos bons vendedores de commodities, suco de laranja, açúcar, café e não só esses itens, mas também outros itens ali são importantes para a gente fazer uma entrada de maneira mais competitiva".
Em relação ao Brasil, Yano ressalta que o País pode ser afetado com uma medida de aumento das tarifas americanas provindas de produtos fora dos Estados Unidos. "Os Estados Unidos não são o nosso maior parceiro comercial. O nosso maior parceiro comercial é a China e depois vem a Argentina. É um bom parceiro comercial, mas não é o único. Nesse ponto de vista ficaria mais preocupado com questão de aumento da taxa de entrada desses produtos dos EUA, mas não uma imposição apenas para os brasileiros. Será um aumento para o mundo inteiro", finaliza. (Com Agência Estado)