Exposição mostra linha do tempo das artes visuais em Rio Preto
O tempo, quando visto pelos olhos de um artista, se transforma em narrativa, cor e memória. É essa a proposta da exposição “Artistas e Boletos: Linha do Tempo das Artes Visuais em SJ Rio Preto”, de juny kp!, em cartaz até 15 de novembro, na casa de criar, localizada na rua Nelson Freitas, 745, no Parque Residencial Laureano.
A mostra convida o público a percorrer uma linha do tempo que atravessa décadas da história da arte rio-pretense — da fundação da cidade aos dias de hoje. A visitação é gratuita, e escolas e instituições interessadas podem agendar visitas mediadas pelo WhatsApp (17) 99131-8500.
A mostra integra o projeto “Casa de Criar, 10 anos: manutenção, resistência e corpo ativo” e propõe uma reflexão sobre as formas de (sobre)vivência do trabalhador-artista em Rio Preto.
A LINHA DO TEMPO
Fruto de sua dissertação de mestrado, o projeto nasceu da necessidade de contextualizar o campo das artes visuais locais de maneira viva e acessível. “No processo de pesquisa e definição do corpus, necessitávamos contextualizar o campo das artes visuais em Rio Preto. Assim, em vez de produzir um texto descritivo, cronológico e moroso, optei por um infográfico, no modelo linha do tempo, mais lúdica, dinâmica e interativa”, conta o artista.
Para isso, juny kp! construiu a linha do tempo a partir de pesquisas em edições do Diário Oficial e em acervos históricos da cidade.
O resultado é um grande painel que destaca marcos como o primeiro registro de uma exposição de arte — da pintora Madame Américo Nascimento, no Automóvel Clube —, a entrada de José Antônio Silva, o Silva, no cenário artístico nos anos 1950, além de inaugurações de museus, galerias e associações que ajudaram a formar a identidade cultural rio-pretense.
Segundo juny, as colaborações da artista plástica Norma Vilar, do historiador e jornalista Lelé Arantes e do crítico de arte e jornalista Romildo Sant’Anna foram essenciais para o trabalho.
“A Norma foi entrevistada para o mestrado, ela está no corpo da dissertação. Romildo referendou e contribuiu com dados e Lelé foi fundamental na busca por dados históricos fundantes e precursores em jornal; ele me deu o caminho para eu pesquisar. A ‘bença’ deles é fundamental para a confirmação da relevância, ineditismo e necessidade da pesquisa e da linha do tempo”, ressalta.
Mais do que uma cronologia, o trabalho revela o artista como agente social e econômico, ampliando o diálogo entre arte, história e território.
TRABALHO INÉDITO
Lelé Arantes vê na obra um gesto de síntese e generosidade. “Eu achei muito bacana a iniciativa do juny, porque às vezes a gente não tem tempo para ficar procurando as coisas. E ali, a hora que você bate o olho, você já dá de cara com a informação. A linha do tempo é muito resumida, mas é exatamente isso que precisa ser feito para provocar o interesse do cidadão de conhecer aquele assunto”, explica.
Romildo Sant’Anna também se impressionou com o resultado. “Eu admiro o juny e o acompanho há muitos anos, desde a época dos graffitis. Essa linha do tempo é um trabalho necessário, que deveria ser feito na nossa cidade; fui lá com muito prazer e admirei mais esse trabalho”, conta.
Lelé lembra que a Prefeitura possui uma linha do tempo sobre a história da cidade, mas nada semelhante na área cultural. “Tem uma iniciativa semelhante, mas não na área de cultura, e sim na área de História. Esse trabalho foi feito pela Denise Homsi e por mim, nos anos do segundo mandato do Edinho Araújo, entre 2005 e 2008. Essa linha do tempo está em todos os andares da prefeitura. Quando você sai do elevador, do primeiro ao oitavo andar, encontra a linha do tempo da história de Rio Preto”, recorda.
Para os historiadores, o trabalho de juny kp! é inédito. “Uma linha do tempo sobre cultura é a primeira. Isso é um trabalho inédito e ficou muito bom, dá para acompanhar direitinho como as coisas funcionaram”, afirma Lelé. “Tenho acompanhado a cultura há muitos anos, pelo menos há 50 anos, e não vi nada a respeito como essa linha do tempo. Esse é um trabalho importante, porque tem a garantia de ser um trabalho acadêmico, de mestrado”, completa Romildo.
NOVOS PASSOS
Encerrando a temporada da mostra neste sábado, 15, juny kp! já planeja novos passos. “Meu desejo é circular muito a linha durante o ano de 2026 em todos os lugares de relevância e circulação da cidade. Será um ano de muita troca e diálogo sobre os processos e resultados da pesquisa e sobre conhecer mais de nossa memória no campo das artes visuais”, ressalta.
A exposição, no entanto, está longe de ser um trabalho fechado. “A exposição da linha foi pensada de modo que todas as contribuições sejam feitas e, posteriormente, adicionadas de maneira contínua e permanente. Assim, ela sempre estará nova, atualizada e mais completa. Na Casa de Criar e nas próximas mostras, disponibilizamos Post-its e canetas para que o público, caso tenha novos dados, contribua e aplique sobre o respectivo ano”, explica o artista.

Redação 



