Morre aos 74 anos o professor Aguinaldo Gonçalves

Morre aos 74 anos o professor Aguinaldo Gonçalves
Aguinaldo Gonçalves morreu aos 74 anos; ele deixa uma obra vasta e reconhecida no Brasil e no exterior (Mara Sousa)

Morreu na manhã da segunda-feira, 15, o escritor, poeta, professor e pesquisador Aguinaldo Gonçalves, aos 74 anos. Ele estava internado no Hospital de Base (HB), de Rio Preto.

O velório acontece nesta terça, 16, a partir das 8h, na Organização de Luto São Carlos, localizada na rua Guilherme Guerbas, 346, Centro, em frente a Santa Casa de Buritama, cidade onde morou nos últimos anos. O sepultamento será às 17h, no cemitério municipal.

Homem das letras e da cultura, Aguinaldo era titular da cadeira 20 da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura (Arlec) e da cadeira 2 da Academia Brasileira de Escritores (Abresc). 

Trajetória

Formado pela Escola Normal do Instituto de Ensino Monsenhor Gonçalves, de Rio Preto, Aguinaldo José Gonçalves graduou-se em Letras Português-Inglês e Latim pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São José do Rio Preto (Fafi, hoje Ibilce), em 1973.

Tornou-se mestre e doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo (USP) e obteve o título de livre-docente em Teoria Literária pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Ocupava atualmente o cargo de professor associado sênior na mesma universidade. 

Referência

Para João Paulo Vani, ex-aluno de Aguinaldo e presidente da Academia Brasileira de Escritores (Abresc), Aguinaldo foi uma referência para a sua geração.

"Na última vez em que estivemos juntos, numa visita que deveria ter sido breve, de 15 minutos, nosso encontro durou pouco mais de três horas. Hoje, me junto a milhares de ex-alunos que sentirão sua partida; milhares de ex-alunos que trocarão mensagens e terão muito a rememorar sobre suas aulas, sobre seus comentários sagazes, sobre como, de algum modo, o senhor fez acender uma luz, de questionamento e criticidade, na cabeça, no coração ou na alma", conta.

Suas últimas obras foram o livro de teoria “Prolegômenos aos estudos homológicos entre literatura e artes plásticas” e os livros de literatura “Quando em outro país nossos braços se tocaram” e “O cadarço vermelho”, publicados em 2022.

Neste ano, a editora Unesp reeditou um livro até então esgotado de Aguinaldo, “Transição e permanência”, originalmente publicado pela Iluminuras.

Legado

O professor Fernando Guimarães Saves foi orientando de Aguinaldo e guarda com carinho o convívio com ele. "O Aguinaldo foi — para mim e tantos outros estudiosos e entusiastas da arte, especialmente a literária — uma espécie de paideuma. Pavimentou o caminho para que encarássemos a Literatura com a seriedade que ela merecia. Sua mente inquietante produziu até os últimos momentos, mesmo estando, nesses dias, à base de morfina. Ele mesmo disse saber que estava se desligando, mas encarou o instante com a firmeza e a racionalidade com que compunha um soneto. O Aguinaldo viveu como só os artistas podem; e ele fica para sempre, depois de morto, nas palavras que nos legou e nas inquietações poéticas que nos provocou", conta.

“O professor Aguinaldo nos deixa um legado indelével de amor pela arte e pelo conhecimento. Mesmo debilitado, não deixou de publicar e de promover palestras em seu acervo de Buritama. Na última conversa que tive com ele, por telefone, disse que gostaria de organizar um jantar cultural. Não teve tempo, infelizmente”, conclui a escritora, poeta e artista visual Patrícia Buzzini, que também foi aluna de Aguinaldo.

Doação do acervo

Após sofrer um AVC e desenvolver problemas de visão, Aguinaldo Gonçalves doou todo o seu acervo, com mais de 3 mil livros e cerca de 50 obras de arte, ao Centro Cultural “Graciliano Ramos”, de Buritama, em 2021. O espaço ficou conhecido como acervo e pinacoteca “Prof. Dr. Aguinaldo Gonçalves”.

“Doei por causa da minha cegueira. Então, para que ficar com eles? Isso de nada adiantaria. Uma vez que não posso mais lê-los, decidi dar uma outra função para eles. Assim, a ausência da visão física aumentou a minha visão mental”, contou Aguinaldo em entrevista ao Diário na ocasião do primeiro aniversário da pinacoteca.

A escolha por Buritama foi carregada de carinho. “Penso que se doasse para alguma grande universidade, isso não valeria tanto a pena quanto doar para a minha cidade natal. Todo mundo ia querer ir para Rio Preto ou São Paulo, na USP. Sou daqui e a cidade é pequena, eu achei que era o melhor a se fazer para despertar a cultura para o povo”, disse na época.

(Colaborou Victória Oliveira)