Projeto resgata riqueza da cultura afro-brasileira em Rio Preto

Projeto resgata riqueza da cultura afro-brasileira em Rio Preto
A ação “Levanta Iaiá, Vai à Feira”, parte do projeto “Cazuá Refúgio Cultural”, foi idealizada pelo mestre de capoeira Angola Eddy Angoleiro e leva rodas de capoeira para ferfeiras livres de Rio Preto (Rodrigo Marques dos Santos/Divulgação)

Quem passou pelas feiras dos bairros Ipiranga e Solo Sagrado nas últimas semanas viu um ritmo diferente do habitual.

A ação “Levanta Iaiá, Vai à Feira”, realizada pela Arcca, escola de capoeira de Angola, leva o som dos atabaques, berimbaus e os movimentos da capoeira para feiras livres da cidade. As próximas ações acontecem no dia 9 de março, na feira do bairro Guiomar Assad Calil (Caic); e no dia 13 de abril, na feira da Boa Vista.

“A primeira ação foi ótima, mas a segunda, no Solo Sagrado, eu acredito que o público se envolveu mais pela questão de ser na região Norte e também porque é uma feira maior. Teve uma aceitação muito boa do público, que chegou para ver a roda, participar”, conta o fundador da escola Arcca, educador físico e mestre de capoeira Angola Eddy Angoleiro.

CONTRAPARTIDAS

A ação de levar a capoeira às feiras é uma das contrapartidas do projeto “Cazuá Refúgio Cultural”, que possibilitou reforma no espaço da escola Arcca. O projeto foi viabilizado por meio de chamamento público e da lei de acesso e fomento à cultura Aldir Blanc.

A obra começou em dezembro de 2024 para promover a manutenção do espaço físico e revitalização, eliminando infiltrações em telhados e paredes, bem como piso e muro; além de instalações de calhas, medidas de acessibilidade com rampa de acesso na entrada, implementação do banheiro como estabelece as normas NBR 9050 e pagamento de despesas. “A construção da rampa de acesso e todas as adaptações e reparos, serão de extrema importância para acolher o público com diversidade, comodidade e autonomia, ampliando o alcance da atuação cultural em Rio Preto”, enfatiza Eddy.

Outra contrapartida é a ação “Samba Iaiá, Samba Ioiô”, a qual oferta oficinas de musicalidade para pessoas do CCI (Centro de Convivência dos Idosos) de Rio Preto.

Eddy explica que as atividades culturais no CCI começaram em janeiro, com duas apresentações mensais até o dia 6 de junho. Outra ação inclui atividades no Lar São Vicente de Paulo, também com início em janeiro e término em maio. Neste espaço, os idosos desfrutam de oficinas de musicalidade.

Segundo Eddy, as contrapartidas visam difundir os saberes ancestrais de modo a descentralizar as ações culturais da cidade, mostrando a riqueza da cultura afro-brasileira. “Estamos realizando quatro rodas de capoeira Angola em feiras livres aos domingos, oficinas quinzenais de musicalidade e samba de roda durante seis meses para os frequentadores do CCI, com cantigas de rodas e socialização em grupo, para sensibilizar e favorecer a saúde mental e física dos idosos”, compartilha.

Após a conclusão da reforma, haverá uma oficina de confecção de caxixi para idosos na sede da Escola ARCCA, todas ministradas e conduzidas pelo proponente do projeto, Eddy Angoleiro.

“Na capoeira, a gente trabalha da seguinte forma: os mais velhos são detentores do saber. Então, há muito respeito pelas pessoas mais velhas. Poder levar a capoeira para esse público está sendo positivo e de muito aprendizado, porque eu nunca havia trabalhado com a terceira idade. Trabalho muito as cantigas de roda e eles se identificam muito com algumas músicas que já sabiam no passado. Então, isso é um resgate que ajuda a ativar a memória. Em alguns momentos, a gente até consegue também ativar a memória corporal de dançar, de brincar”, conta Eddy.

ARCCA

Localizada na rua Professora Etelvina Ramos Viana, 521, no Jardim Nazareth, a escola ARCCA desenvolve desde 2008 um trabalho de resistência e preservação da cultura afro-brasileira em Rio Preto e região, como também, em outros estados, com oficinas de capoeira angola e apresentações de samba de roda, maculelê e bumba-meu-boi.

Mensalmente, a Arcca realiza rodas de capoeira abertas para a população. As datas são avisadas por meio do perfil de Instagram @arcca.capoeira.angola

Para o educador físico, a importância da capoeira vem desde o pertencimento a um grupo social, fortalecimento da autoaceitação com o aprendizado e as vivências da cultura afro-brasileira. “Nossa escola é composta por pessoas de múltiplas áreas de atuação, como teatro, música, capoeira Angola, assistência social, ensino infantil e juvenil, entre outras habilidades que permitem a seus componentes estender os impactos culturais a diversos grupos sociais”, ressalta.

Além da unidade no Jd. Nazareth, a Arcca também realiza um trabalho social com mais cinco professores que atuam em outros locais, ensinando capoeira gratuitamente na Estância São Carlos, em Cedral e Mirassol, com aulas regulares para pessoas de todas as idades.