Empresários da região de Rio Preto temem efeito de tarifas de Trump

Empresários da região de Rio Preto temem efeito de tarifas de Trump
Linha de montagem da Embraer em São José dos Campos (Divulgação/Embraer)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quarta-feira, 30, decreto que sobretaxa produtos brasileiros em 50% a partir do dia 6 de agosto. As tarifas atingem diretamente produtos brasileiros que saem de Rio Preto e da região com destino aos EUA, como a carne bovina, café, móveis, entre outros. Ao assinar o decreto, Trump deixou 694 produtos brasileiros isentos da sobretaxa, como determinados alimentos, minérios, produtos da aviação civil, entre outros.

Diante da decisão americana, o clima nos setores impactados é de tensão e prejuízos na ordem de milhões de dólares, uma vez que os efeitos da sobretaxa ainda não estão claros.

Os Estados Unidos são o segundo maior mercado de produtos exportados por Rio Preto e pela região, explicando a dimensão dos impactos do tarifaço. Só neste primeiro semestre de 2025, segundo o Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), do total de US$ 933 milhões de produtos vendidos para o exterior por Rio Preto e outros 98 municípios, US$ 54,1 milhões foram negociados com os EUA. Já as importações de produtos americanos ficaram na ordem de US$ 31,1 milhões — superávit superior a US$ 23 milhões a favor dos EUA.

Entre os produtos mais vendidos para os americanos no período estão “carnes e miudezas comestíveis”. A maioria dos produtos exportados, US$ 18,8 milhões, saíram do frigorífico da Minerva Foods, em José Bonifácio. Procurada, a assessoria do Minerva informou que “a empresa não comenta o assunto”.

Na segunda posição do ranking de produtos mais vendidos aos EUA neste primeiro semestre, com negócios no total de US$ 8,5 milhões, estão “preparações alimentícias diversas” — o que inclui o café, segundo produto brasileiro mais exportado aos americanos.

Na sequência da lista estão “óleos essenciais e resinoides; produtos de perfumaria ou de toucador preparados e preparações cosméticas”, com negócios na ordem de US$ 6,2 milhões, produtos de origem animal não especificado, peixes e frutos-do-mar, produtos hortícolas, reatores nucleares e produtos afins, gorduras e óleos de origem animal e vegetal, produtos do extrativismo vegetal e móveis.

O presidente do Conselho do Agro (Cosag) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Jacyr Costa Filho, afirmou que o agronegócio do Estado sofrerá um importante impacto.

“Com essa tarifa, perdemos competitividade neste importante mercado consumidor, encarecendo nossos produtos e estimulando os importadores norte-americanos a buscarem outros fornecedores, justamente em um momento de já baixa nas cotações e incertezas climáticas”, analisou. Segundo o presidente, a taxação vai prejudicar a cadeia produtiva dos setores impactados. “Com milhares de agricultores e trabalhadores vulneráveis”, afirmou.

O diretor do Grupo Rio Port, Marcio Marcassa Júnior, disse que na análise do grupo, os setores mais prejudicados numa abrangência de 102 municípios da região de Rio Preto os açúcares e produtos de confeitaria, carnes e miudezas comestíveis, preparações alimentícias diversas e produtos capilares, “sendo esse último o que mais vinha crescendo nas exportações para os EUA neste primeiro semestre”, disse.

O despachante aduaneiro da Caribbean Express, Paulo Narcizo Rodrigues, sustenta que o tarifaço vai prejudicar a exportação de móveis, produtos capilares e produtos para pets, além de retirar setores da região do mercado americano.

“Se prevalecer o tarifaço de 50% para produtos exportados pelo Brasil aos Estados Unidos, muitos exportadores estarão impossibilitados de exportar para os americanos”, afirmou, lembrando que o tarifaço só entra em vigor no dia 6 de agosto.

Na análise de Narciso, o Brasil não tem capacidade para escoar produtos vendidos aos EUA. “Imediatamente impactados serão: café, carne bovina congelada, pescados e frutas”, afirmou.

Segundo Narcizo, outro setor da região que será prejudicado é o setor de móveis. “A indústria moveleira de nossa região também terá suas exportações canceladas com toda certeza, e foi uma conquista na gestão anterior de Trump”, disse. Narciso afirma que antes das sobretaxas, a expectativa era exportar US$ 70 milhões aos EUA neste ano. “Agora acredito que nem US$ 50 milhões vai chegar se prevalecer os 50%”, concluiu.

Consequências

Na análise do diretor do Grupo Rio Port, para a região e o Estado, uma consequência previsível é um impacto no mercado interno brasileiro. “O aumento da oferta de produtos no mercado interno, causado pela queda nas exportações, pode pressionar os preços para baixo, conforme a lei da oferta e da demanda e, por outro lado, empresas impactadas pela perda de receita nas exportações podem optar por reajustar os preços no mercado interno o que pode gerar um efeito inflacionário”, analisou. Já para o despachante aduaneiro da Caribbean Express, a redução das exportações podem ir além das empresas exportadoras. “Não só para o exportador, mas na cadeia de suprimentos, embalagens e logística”, afirmou.

<p><span>Governo precisa esgotar negocia&ccedil;&otilde;es</span></p>
Desde o anúncio do tarifaço, na primeira semana de julho, não houve acordo para reversão da decisão de Trump. Para o presidente do Conselho do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) Jacyr Costa Filho, é necessário esgotar todas as tentativas de negociação.

"De outro lado, devemos continuar a busca por novas rotas de exportação, como México, Canadá, entre outros, além de negociar laços mais fortes com a União Europeia”, ressaltou. “Importante ressaltar que a China é nosso principal parceiro comercial, mas importa basicamente produtos primários”, complementou.

Ele ainda afirma entender que o governo brasileiro tem buscado diversos interlocutores junto a Washington e que o caminho não é outro senão a diplomacia. “Para buscar uma solução que seja a melhor para os dois mercados”, concluiu.

O diretor do Grupo Rio Port, Márcio Marcassa Júnior, afirmou que as empresas estão em alerta pela dificuldade de recuo do presidente Trump. “Com as tratativas estagnadas até o momento, se espera uma grande queda na competitividade de nossos produtos e acredito que até cancelamentos de pedidos já há algumas semanas. Talvez esperam ainda por alguma reviravolta de última hora”, analisou.

Segundo Marcassa, o governo brasileiro envolveu várias entidades nas tratativas com o governo americano, mas a maioria entende que faltou e falta uma negociação mais direta de presidente com presidente, “algo mais efetivo deixando de lado a parte política a partindo para o lado econômico”, criticou.

Já para o despachante aduaneiro da Caribbean Express, uma das medidas que poderiam ser adotadas em comum acordo é a possibilidade do exportador brasileiro arcar com 20% na redução de custo do produto exportado e o americano absorver os outros 20%, uma vez que os 10% já é de fato taxado.

“Vários países estão se alinhando entrando em acordo, a exemplo do Japão, que ficou com 15%, o Reino Unido 10%, o Vietnã 20%, a Indonésia 19%, as Filipinas 19% e, recentemente, a União Europeia, com 15%. O Brasil estava muito confortável nos 10% anteriormente impostos”, sugeriu. (FP)