Empresas de Rio Preto apostam na contratação de pessoas com 60 anos ou mais

Com uma população idosa na casa dos 90 mil habitantes, Rio Preto tem 3.659 vínculos formais ocupados por pessoas com 60 anos ou mais. O levantamento é do Centro de Estudos Econômicos (CEE) da Associação Comercial e Industrial de Rio Preto (Acirp) e marca este 1º de outubro, Dia Nacional do Idoso no Brasil.
Os dados baseados na Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do último ano disponível (2023) mostram que 67,2% dos vínculos são ocupados por homens, enquanto as mulheres respondem por 32,74% do total. O mapeamento também revela que a absorção da força de trabalho idosa concentra-se em cargos que exigem menos escolaridade e é um alerta para a necessidade de quebrar barreiras e qualificar a mão de obra idosa, uma vez que o Brasil e a cidade de Rio Preto estão cada vez mais velhos.
Os números do levantamento do CEE também mostram que os vínculos formais preenchidos por trabalhadores e trabalhadoras com 60 anos ou mais estão divididos, na maioria, por setores como logística e transporte, limpeza e conservação, segurança patrimonial, apoio à educação básica e rotinas administrativas.
Ainda conforme o CEE, dos 3,6 mil vínculos, 217 estão empregados como motoristas de caminhão, outros 215 para cargos de faxina e 153 registros na carteira são para funções de porteiro. No cargo de professor de nível médio no ensino fundamental há 148 vínculos e outros 136 registros estão na função de auxiliar administrativo.
Na avaliação da Acirp, os números alertam para a necessidade de políticas contínuas de empregabilidade e qualificação voltadas ao público sênior por meio de atualização tecnológica, ergonomia e prevenção de riscos, além do combate a discriminação por idade durante processos de seleção. Nesta linha, o economista responsável pelo CEE, Adnan Jebailey, reforça que os números mostram que a pessoa idosa não somente se mantém economicamente ativa, como agrega valor concreto às empresas.
“Experiência, menor rotatividade e capacidade de mediação de conflitos são ativos que se traduzem em produtividade e qualidade de atendimento”, ressalta. "É fundamental removermos o etarismo dos filtros de contratação e oferecermos trilhas de requalificação compatíveis com as demandas tecnológicas atuais", reforça.
FATORES
Em entrevista exclusiva ao Diário, o gerontólogo Alexandre Kalache, nome referência sobre envelhecimento populacional, afirmou que o Brasil está cada vez mais velho e, com isso, a mão de obra do País também envelhece e, ao mesmo tempo, carece de qualificação.
A vice-presidente da Acirp, Daniela Brandi, complementa que a longevidade já não é somente uma tendência, mas uma realidade. “E o mercado que insiste em ler somente pirâmides etárias perde de vista um elemento essencial: a experiência acumulada é um ativo econômico”, afirma.
Em áreas como relacionamento com cliente, manutenção, gestão de processos e vendas consultivas, a curva de aprendizado mais curta do trabalhador sênior reduz erros e aumenta a confiabilidade. “É preciso redesenhar funções, rotinas e ambientes, do desenho ergonômico à flexibilidade de jornada, para capturar esse valor. Quando isso acontece, equipes multigeracionais elevam produtividade e inovação ao combinar repertórios diferentes”, explica Daniela.
Inclusão
O Superintendente de Gente e Desenvolvimento do Grupo Rodobens, Bruno Moretti, analisa a realidade da força de trabalho do Brasil, em especial, de Rio Preto estar em um processo de envelhecimento. A empresa tem mais de 270 colaboradores acima dos 50 anos e 11 acima dos 60 anos. Segundo ele, o grupo ainda realiza treinamentos e capacitações visando o desenvolvimento das carreiras.
"Nestes programas participam os mais jovens e os mais experientes, aberto aos nossos colaboradores, seja a faixa etária qual estiver. Temos a Universidade Rodobens, que é o nosso eixo de capacitação profissional, desde 2013. Em torno de 9% dos alunos é 50+ e 4% 60+", conta.
Na Rede Assaí Atacadista, o diretor-regional Wesley Totti diz que o cenário do envelhecimento da mão de obra é considerado oportunidade de valorização da experiência e do conhecimento acumulado pelos profissionais 50+. "Acreditamos que o futuro do trabalho será cada vez mais diverso e que a inclusão das diferentes gerações fortalece nossas equipes, gera representatividade, melhora o atendimento aos nossos clientes e traz resultados sustentáveis", afirma.
Experiências
O operador de lojas da Rede Assaí Antonio Luiz Pastori, 70 anos, conta que o trabalho vai além da questão financeira. “Para mim, ele é essencial para a saúde mental. Estar em atividade me ajuda a manter a mente ocupada e a ter a sensação de que sou útil, que ainda tenho um papel importante a desempenhar. Isso faz toda a diferença na minha vida”, conta. “Isso me faz sentir parte de algo, me dá motivação para acordar disposto diariamente e mostrar que ainda tenho energia para contribuir”, ressalta.
Para a operadora de caixa Edme Dias Luz, 58 anos, o vínculo formal é uma forma de se manter viva e ativa. “Eu não me sinto com limitações com 58 anos. Lembro que quando fui fazer a entrevista com o RH comentei meu receio pela idade, mas eles me explicaram sobre o Programa 50+, que justamente valoriza profissionais com mais experiência. Isso me deu confiança”, relata.