Famerp recebe nesta quinta Alexandre Kalache, idealizador do conceito de 'envelhecimento ativo'

O mundo está envelhecendo, a na região de Rio Preto não é diferente. Por aqui, um a cada cinco moradores têm mais de 60 anos, o que corresponde a 19,9% da população. É o que apontam dados mais recentes da Fundação Seade, que coloca Rio Preto com a maior proporção de idosos no Estado.
No Brasil, entre 2005 e 2022 o número de pessoas com 60 anos ou mais saltou de 9% para 18% do total. Para debater este cenário, a Famerp recebe nesta quinta-feira, dia 18, Alexandre Kalache, que dirigiu o Programa Global de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS) e idealizou o conceito de “envelhecimento ativo”. Além da faculdade, estão na iniciativa do evento a Funfarme, que administra o Hospital de Base e o Hospital da Criança e Maternidade (HCM), e a Unimed. A palestra é nesta quinta a partir das 19h, no Centro de Convenções da Famerp. A entrada é gratuita, mas com vagas limitadas.
A criação do Sistema Único de Saúde (SUS) foi um marco civilizatório importante para o envelhecimento pois, mesmo com problemas, o sistema garante acesso a prevenção e tratamento de forma gratuita, sem que o paciente dependa de dinheiro ou filantropia. Apesar disso, os especialistas garantem: o Brasil não está preparado para o ritmo avançado de envelhecimento de sua sociedade.
Kalache afirma que prefere não falar em envelhecimento saudável, mas sim em envelhecimento ativo. “Você pode ter diabetes, hipertensão, problema cardiovascular, problema ósseo muscular, mas consegue controlar e continuar ativo. Este é o objetivo”, diz.
Assim como há a preocupação com a aposentadoria, chegar bem aos 60+ depende de uma “poupança” - mas de saúde. “Devemos nos preocupar com o envelhecimento com qualidade desde a juventude, pois é um processo cumulativo e um projeto de vida que se constrói com hábitos saudáveis, engajamento social, propósito e baixo risco de doenças”, diz a professora doutora Rita de Cássia Helú, da Enfermagem da Famerp. Ela reforça que nunca é tarde para começar, mas quanto mais cedo vierem os hábitos saudáveis, melhor.
Cuidados essenciais
Alexandre Kalache lista os quatro pilares cientificamente comprovados para chegar bem à velhice: dieta saudável, prática de atividade física, não fumar e pegar leve no consumo de álcool. “É um hábito social aceito pelas pessoas, que não percebem que álcool é uma droga. Quanto mais velho você fica, mais tempo ele leva para ser metabolizado, mais estrago vai fazer no cérebro, fígado e rins.”
A professora Rita aponta mais alguns hábitos essenciais à qualidade de vida depois da sexta década: dormir bem, beber bastante água, manter atividades de lazer e um ambiente de trabalho que prioriza o bem-estar. “E uma situação financeira estável e planejada, que evita dívidas excessivas, gera tranquilidade, segurança e permite a realização de objetivos.”
Kalache pontua que é importante não apenas a questão de cuidar da saúde física e controlar doenças, mas também o aspecto cidadão do envelhecimento, de o indivíduo ser integrado à sociedade e suas decisões, inclusive com oportunidades dignas de trabalho. “Depende de você ter segurança, proteção, um teto em cima da cabeça, comida na mesa, saber que não vai envelhecer desprotegido, abandonado, negligenciado, que é o horror de tantas pessoas idosas, como sempre foi ao longo da História.”
Importância do convívio
Além do cuidado com o físico, a atenção à saúde mental também é importante, inclusive por meio do convívio social com familiares, amigos e sociedade. O técnico de laboratório João José Sirino, de 79 anos, atribui sua saúde hoje à vida ativa que sempre levou. Ele, que gostava de jogar uma “pelada”, acredita também que o contato constante com os jovens na faculdade joga para longe a depressão. “As pessoas me perguntam se eu não quero parar e descansar um pouco, mas gosto de me sentir ativo. Mesmo em casa, eu não paro.”
Luiz Onivaldo Bizuti, de 75 anos, casado e pai de uma filha, é preparador de aulas em laboratórios da Famerp há 55 anos. Ele também diz que a ocupação é essencial para ocupar a mente. “Eu adoro o que faço, estar aqui e a minha profissão. Não percebo que tenho 55 anos de trabalho.”
Bizuti é conhecido por todos por fazer maquetes, inclusive o tradicional presépio de Natal da faculdade, mas também se dedica à música (com teclado e violão em casa) e carros antigos. “Todos os dias eu acordo às 6h, venho caminhando para o trabalho e aproveito para cumprimentar os amigos, admirar o dia, observar as paisagens e parar embaixo do pé de goiaba para fazer uma oração. Gosto de chegar mais cedo no trabalho e fazer um café porque logo chegam alguns colegas para bater papo antes do início do expediente. Entramos mais cedo e falamos de futebol, coisas da faculdade”, conta.
Casado e pai de três filhos, para ele a alimentação conta muito, por isso prefere comidas mais naturais, como rúcula e couve bem temperada. “Gosto da asa de frango, franguinho assado, um pernil de porco, mas nem sempre. O sal é controlado. E o doce, depois da janta, às vezes, eu pego meia paçoquinha.” (MGB)