Polícia apura se morte de mulher em Rio Preto está ligada a intolerância religiosa

A Polícia Civil investiga a morte de Alessandra Gonçalves Muniz Machado, de 46 anos, ocorrida na madrugada de segunda-feira, dia 12, na Santa Casa de Rio Preto. A vítima estava internada desde sábado, 10, em estado grave, após ter sido espancada e, depois, arrastada por um carro na noite de sexta-feira, dia 9. A delegada responsável pelo caso, Mariana Nascimento, pediu a prisão preventiva do ex-marido, suspeito de ser o autor do crime.
Além da motivação por desentendimento conjugal, o crime também poderá ser enquadrado por intolerância religiosa, uma vez que a mulher era mãe de santo e líder de um terreiro na zona Norte da cidade. O suspeito está preso na carceragem da Divisão Especializada em Investigações Criminais (Deic).
Segundo a delegada, Alessandra e o suspeito foram casados durante 27 anos e tinham três filhos. Há alguns meses, ela o expulsou de casa devido ao seu comportamento agressivo, sobretudo após o consumo de álcool e outras drogas. Durante uma das discussões, o homem teria destruído diversas imagens de entidades da religião de matriz africana pertencentes à vítima.
Na semana passada, após insistência do ex-marido, Alessandra teria aceitado voltar a sair com ele. Contudo, na noite de sexta-feira, o casal iniciou uma discussão dentro do carro, a caminho do local de trabalho do homem.
De acordo com a versão da Polícia Civil, durante a briga, Alessandra encontrou uma garrafa de bebida alcoólica no carro e a atirou pela janela, dizendo que aquele vício era o responsável pelo comportamento violento do marido.
Ainda segundo a polícia, como reação, o suspeito puxou o freio de mão do carro, já próximo da casa da vítima, e começou a agredi-la com socos. Tentando escapar das agressões, Alessandra saiu do veículo, mas foi perseguida e agredida com pontapés pelo homem.
Ao ver a mulher ser espancada, um vizinho interveio, pedindo que o agressor parasse. Em seguida, o homem forçou Alessandra a entrar novamente no carro. Ela tentou mais uma vez sair do veículo, mas uma das mãos ficou presa numa das portas, sendo então arrastada por vários metros.
Ela só conseguiu libertar-se após o carro passar por uma lombada na rua. A vítima foi inicialmente socorrida por amigos e familiares e levada para casa. Devido à gravidade dos ferimentos, foi encaminhada para a Santa Casa, onde foram constatadas lesões graves nas mãos, braços, pernas e, principalmente, no rosto. Os exames indicaram um quadro pneumoencéfalo (presença de ar no crânio).
Depoimento
A vítima ficou internada durante cerca de dois dias. Chegou a prestar declarações à delegada, contando que o agressor era dependente de álcool e drogas e que, durante o episódio, a insultou com palavras como “diabo”, “demónio” e “satanás”.
O suspeito foi localizado e detido pela Polícia Militar na madrugada de segunda-feira. Foi encaminhado à Central de Flagrantes, submetido a exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML). O caso foi registado como injúria, violência doméstica, dano, morte suspeita e feminicídio. (Colaborou Diego Bressant)