Bebê intersexo de Rio Preto inspira personagem da novela Renascer
Um bebê nascido em Rio Preto, cuja história se tornou bandeira de luta pela visibilidade de pessoas intersexo, inspirou a criação de um personagem na novela "Renascer" – Cacau, o filho de Teca, interpretado pela atriz Lívia Silva. Jacob, que é citado na trama de Bruno Luperi, é filho da pedagoga Thaís Emília de Campos dos Santos, uma das fundadoras da Associação Brasileira Intersexo (Abrai) e voz ativa na causa.
Na primeira versão da novela, escrita por Benedito Ruy Barbosa, a personagem Buba era “hermafrodita”, termo que foi substituído por “intersexo” e que denomina pessoas com características sexuais (genitálias) diferentes daquelas conhecidas e tipicamente relacionadas ao sexo masculino ou feminino. Na literatura médica a condição é chamada de distúrbio do desenvolvimento sexual (DDS).
Na releitura da novela, adaptada por Bruno Luperi, Buba (interpretada por Gabriela Medeiros) é uma jovem transgênero. A mudança na história original provocou protesto na comunidade intersexo. “Entendemos que não se pode levantar uma pauta apagando a outra. A abordagem sobre a intersexualidade em 1993 contribuiu enormemente para a disseminação do tema entre a população e a expectativa era que isso voltasse a acontecer, já que a novela fala com uma gama muito diversificada de pessoas”, afirma Thaís.
Por meio de postagens em redes sociais, a Abrai conseguiu chamar atenção da produção da novela e os representantes da associação foram convidados para uma reunião.
“Os produtores quiseram nos ouvir, um deles já tinha lido o meu livro sobre o Jacob. Então propuseram incluir um personagem intersexo na trama, que seria o filho de Teca. Tivemos outras reuniões para alinhar questões que gostaríamos que fossem abordadas na novela”, continua.
Exibição
Em capítulo exibido no dia 25 de junho, Buba está pesquisando informações sobre crianças intersexo e menciona a José Augusto que descobriu histórias lindas, como de Jacob e Dionne Freitas, cofundadora da Abrai. “Você acredita que tem uma associação que promove e protege o direito de pessoas intersexo no Brasil?”, indaga. Ao que José Augusto responde: “É a Associação Brasileira Intersexo”. Na sequência, Buba afirma que vai ligar na Abrai para se informar.
“Quando meu filho nasceu, em 2016, eu procurei uma ONG ou associação que pudesse me orientar e não existia. Por meio das redes sociais conheci a militância da Dionne e juntas fortalecemos a ideia da necessidade de uma representatividade formal. Nos orgulha saber que hoje as famílias são amparadas pela Abrai,” diz Thaís. Jacob morreu em 2018, por complicações de problemas cardíacos.
Debate
Entre as questões que são sensíveis para a comunidade intersexo e que serão abordadas na novela está o debate sobre o procedimento cirúrgico precoce de designação sexual, cuja resolução do Conselho Federal de Medicina considera uma “urgência biológica e social”.
“A cirurgia teria como objetivo proteger a criança de discriminação. Mas se trata de um procedimento irreversível. Por isso, nós defendemos o direito e a liberdade de a pessoa intersexo escolher pela designação sexual quando estiver madura para tomar essa decisão, levando em consideração a maneira como que se reconhece”, finaliza.
Na Declaração de Nascido Vivo, o bebê é registrado com sexo “ignorado”, um direito conquistado pela comunidade intersexo.