Clima e lucro reduzido afetam produção de soja na região de Rio Preto

Clima e lucro reduzido afetam produção de soja na região de Rio Preto

Para a safra 2025-2026, a produção de soja no Noroeste paulista enfrenta um ambiente de desafios, entre eles, as incertezas geopolíticas internacionais e os riscos climáticos para o plantio do grão. Produtores da região projetam o plantio da oleaginosa, neste ciclo, entre os meses de outubro e novembro, mas dependem de um volume de chuva bom para iniciar a semeadura. A safra anterior na região resultou em margem de lucro menor e muitos produtores desistiram da cultura ou estão diminuindo as áreas com a soja.

Os riscos climáticos para as plantações têm trazido preocupações aos agricultores e afetado a produtividade da soja, apesar da expansão da cultura nas reformas dos canaviais. “Esse ano tivemos um veranico nos meses de janeiro e fevereiro, prejudicando o enchimento do grão e cai a produtividade. O risco climático é grande, tanto que temos dificuldade em fazer o seguro rural dessas plantações”, comenta o produtor André Seixas.

Segundo André, essa dificuldade com o seguro (que avalia o risco climático do local a ser cultivado o grão) o levou a desistir da produção de soja na região de Rio Preto. “O risco climático é muito alto e agora, contribuindo com isso, as margens de lucro que eram muito boas para o produtor, no cenário atual ficaram apertadas”.

Lucro em baixa

O sojicultor Cássio Estanislau da Silva avalia que o ciclo 2025-2026 será bastante desafiador para as lavouras de soja na região. Ele diz que a variação climática com a estiagem prolongada desanima os produtores, o que ele estima em diminuição de áreas no Noroeste. “O mercado está difícil, as oscilações de preços da soja desanimam o produtor. Em muitos anos que cultivo soja, essa safra será a mais difícil”, ressalta.

Ele avalia que os extremos climáticos ocorrem na região com variações entre as propriedades. “No ano passado, até tivemos boa produtividade em Mirassol e Rio Preto, porém tive áreas de plantio de soja em Cardoso com colheita muito prejudicada pela falta de chuva”, diz Cássio.

O custo de produção, especialmente com o alto valor do adubo, é outro fator que os sojicultores apontam para a diminuição de áreas com a soja. “O preço pago no campo e os custos com plantação são os principais problemas atualmente para essa safra”, pontua Reginaldo Massuia.

Em Nhandeara, Reginaldo previa plantar 1,5 mil hectares de soja nesta temporada. Porém, ele desistiu e projetou área de 1,3 mil hectares do grão. Com as previsões climáticas de altas temperaturas na região, o produtor diz que o plantio deve atrasar novamente. “A janela ideal de cultivo da soja ocorre entre 20 de outubro e 20 de novembro, com boa produtividade das plantas neste período”.

Projeção prevê aumento da soja
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta para a soja, principal produto cultivado no País, um novo aumento na produção em 3,6%, estimada em 177,67 milhões de toneladas na safra 2025-2026. Segundo o levantamento, se o fator climático não interferir, a produção nacional deve alcançar mais um recorde produtivo, reforçando a posição do Brasil como maior produtor mundial de soja.

A demanda global pela oleaginosa continua em crescimento, conforme o estudo da Conab, impulsionada pelo aumento do esmagamento para alimentação animal e pela maior produção de biocombustíveis, tanto no Brasil quanto no exterior. “Mesmo com preços internos pressionados e desafios de rentabilidade, a cultura mantém elevada liquidez e retorno atrativo aos produtores”, diz o boletim.

Para os agricultores da região Noroeste, a perspectiva para essa safra deverá incidir em preços que reduzem a lucratividade com o plantio da oleaginosa. Na temporada anterior, José Luiz da Costa plantou 62 hectares de soja na propriedade localizada em Orindiúva, e fechou contrato da saca por R$ 120.

“Essa safra, os contratos futuros já estão travando em preços menores, que deve ficar em R$ 115 (saca de 60 kg). É difícilpela soja ser uma commodity e dependemos do mercado internacional, que está muito incerto até o momento”, afirmou José. (CC)

Pressão internacional
O recente enfraquecimento nos preços pagos pela soja no País está relacionado à entrada da safra 2025–2026 dos Estados Unidos e à isenção temporária das "retenciones" (impostos de exportação) na Argentina. Na análise de pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), essa medida atraiu importadores para o país vizinho e pressionou as cotações no Brasil e nos Estados Unidos.

Conforme o produtor e diretor de agronegócios da Associação Comercial e Empresarial de Rio Preto (Acirp), André Seixas, os produtores da região que possuem áreas de cana e as usinas, ainda mantêm a lucratividade com a soja na região. Porém, a avaliação é de que o mercado internacional traz essa incerteza com os preços para os demais sojicultores.

“Está muito relacionado à política internacional, com o tarifaço do Trump, que envolve a China, um país que sempre importou muita soja do Brasil. Porém, a China deve continuar comprando o grão da produção brasileira, pelo volume e disponibilidade que temos da soja. E as projeções são de safra recorde da soja no Brasil, o que deve pressionar ainda mais os preços da commodity para baixo. Mas todo esse cenário tem influenciado muito a questão dos preços pagos nas lavouras brasileiras”, destacou André. (CC)