Em Rio Preto, vencedor do Prêmio Jabuti diz que propõe uma literatura acessível

Em Rio Preto, vencedor do Prêmio Jabuti diz que propõe uma literatura acessível
Jeferson Tenório, vencedor do Prêmio Jabuti 2021,visitou Rio Preto na terça-feira, 8, para lançar seu livro, “De onde eles vêm” (Victória Oliveira 8/7/2025)

“O que eu proponho é uma literatura que seja acessível. Isso é bastante consciente. Eu quero formar leitores.” É com essa frase que o escritor Jeferson Tenório encerrou a entrevista concedida ao Diário da Região. Vencedor do Prêmio Jabuti — a mais importante premiação literária do Brasil —, o autor esteve em Rio Preto na última terça-feira, 8 de julho, para lançar seu novo livro, “De onde eles vêm”. O bate-papo aconteceu no Teatro do Sesc.

Considerado uma das vozes mais relevantes da literatura brasileira contemporânea, Jeferson é autor de quatro obras: “O beijo na parede”, “Estela sem Deus”, “O avesso da pele” e “De onde eles vêm”. Ganhou projeção nacional quando “O avesso da pele” — vencedor do Jabuti em 2021 — foi alvo de censura por parte de governantes estaduais. Com mais de 200 mil exemplares vendidos, o livro já teve seus direitos adquiridos por países como Portugal, Itália, Inglaterra e França. Agora, o autor retorna aos holofotes ao retratar a realidade de alunos cotistas, logo após a implementação do sistema de cotas no Brasil.

O LIVRO
“De onde eles vêm” conta a história de Joaquim, um jovem negro e periférico de Porto Alegre que, por meio do sistema de cotas, ingressa no curso de Letras em uma universidade pública. Joaquim é um jovem sonhador, que deseja viver da escrita, mas logo se depara com uma sensação de não pertencimento, como se não merecesse estar naquele ambiente. Aos poucos, percebe que a diferença entre ele e os demais alunos não está na capacidade intelectual, mas nas oportunidades e nos privilégios acumulados ao longo da vida.

Ao narrar a história de Joaquim, Tenório narra uma história coletiva, colocando em evidência a realidade que muitos alunos cotistas viveram e vivem ainda. “Historicamente, a universidade é hostil para todo mundo. Mas, para a comunidade negra e periférica, é ainda pior. Você tem um espaço de muita competição, que muitas vezes o que interessa é o desempenho. Você precisa produzir muito sem ter reflexão do que está sendo produzido. Eu acredito que melhorou muito o sistema de cotas desde quando eles foram instalados, mas o que parece é que ainda falta apoio na manutenção desses alunos na universidade”, revela.

EDUCAÇÃO
A educação é um tema constante na obra de Tenório. Em todas as suas histórias, os protagonistas negros têm, de alguma forma, acesso ao conhecimento, seja por meio dos livros ou o acesso às universidades. Segundo ele, na verdade, escrever essas histórias “é uma tentativa de deslocar a experiência negra, que é sempre marcada por violência e pelo racismo, e tentar mostrar uma trajetória intelectual”.

“Hoje, eu me convenço de que escrevi o mesmo personagem sempre. Muda o gênero, a idade, mas é como se fosse o mesmo personagem, porém todos em busca desse espaço do conhecimento, do pensamento. Uma mulher negra que pensa é algo muito potente, como acontece em ‘Estela sem Deus’. A educação aparece como uma ferramenta de transformação interior. Primeiro, vem a consciência racial e social; depois, a partir dessa organização interna, o personagem passa a interferir no mundo. É isso que eles buscam com o conhecimento que adquirem”.

LEITORES
Ao contar histórias de pessoas silenciadas e invisibilizadas pela sociedade, Tenório diz buscar escrever os livros que gostaria de ter lido quando jovem, e acredita que por isso maioria de seus leitores é formada por jovens.

“Na narrativa, o que eu quero é que o leitor pegue o meu livro e não largue. Essa é a minha intenção. O que eu proponho é que seja uma literatura acessível. Quero formar leitores”.

“O que mais me realiza é ver pessoas que não são leitores se tornarem leitores. Acho que esse é um momento mágico. E se os meus livros puderem fazer essa ponte, eu chegar nesse momento, para mim é o maior prêmio, uma realização”, finaliza.