'Cosmakers' impulsionam economia criativa em Rio Preto

Com armaduras, espadas e capas feitas sob medida, os "cosmakers" — pessoas que criam trajes e acessórios para cosplayers, ou seja, são os artesãos por trás das fantasias de personagens dos cinemas, mangás ou desenhos animados — vêm ganhando espaço na economia criativa e movimentando um mercado que alia cultura pop, moda e tecnologia. A tendência é alimentada por eventos de cultura geek, redes sociais e uma nova geração de consumidores disposta a investir em personalização. Em Rio Preto, o segmento cresce pelas mãos de profissionais como Caren Dias, 30 anos, e Nicolas Sochi, 22, que transformaram o hobby em negócio.
Formada em corte e costura, Caren começou adaptando roupas para fazer seus próprios cosplay enquanto ainda fazia o curso, após ir pela primeira vez ao Animerp em 2014, evento de anime organizado pelo Sesc de Rio Preto. Mas logo os pedidos começaram a chegar. “Em 2015, já tinha meus primeiros clientes e desde 2021 o "cosmaker" se tornou minha principal fonte de renda”, diz.
Ela conta que os personagens mais solicitados vêm de jogos como League of Legends e Genshin Impact, com preços que variam em torno de R$ 1 mil, dependendo da complexidade. “Hoje trabalho com tecidos, EVA e impressão 3D. Cada peça passa por etapas, a depender do material, como modelagem, montagem, pintura e acabamento”, diz.
Nicolas iniciou no ramo produzindo acessórios e itens de personagens que ele gostava. Ele conta que aprendeu a construir essas peças de forma autônoma, utilizando a curiosidade e tutoriais da internet. “Hoje produzo acessórios, como armas, espadas e lanças, e armaduras completas ou em partes, como um braço biônico ou um capacete”, afirma.
Ele cita que além da região de Rio Preto, consegue atingir clientes pelo país, mediante divulgação on-line. “Aqui na região tem uma demanda boa de pessoas que tem interesse no mundo cosplay, mas hoje meu trabalho abrange o Brasil. Muitos dos meus clientes são de outros estados”, conta.
Ele diz que os itens mais pedidos são os de médio porte, que os personagens de animes, filmes e jogos carregam consigo. Feitos geralmente de E.V.A. ou impressão 3D, as peças custam cerca de R$ 600, dependendo do tempo de produção e complexidade.
“É uma escolha: ou o "cosplayer" gasta tempo para produzir o próprio cosplay ou ele investe dinheiro e terceiriza o trabalho, principalmente ao tratar de um projeto mais complexo e bem trabalhado. Em projetos próprios já cheguei a levar quase dois anos para finalizar um projeto, que era uma armadura da cabeça aos pés, formada por mais de 300 peças. Então eu diria que o maior investimento nesses projetos é o tempo”.
Aninha Schwelm, de 32 anos, é um exemplo de como a paixão por personagens pode impulsionar uma cadeia criativa inteira. "Cosplayer" há duas décadas, desde os 12 anos, ela já fez cosplay em eventos no Brasil e no Japão.
“Amo poder transformar um personagem em realidade. O cosplay trabalha com a tentativa de chegar o mais próximo possível do personagem, é um trabalho delicado de transformar o irreal no real”, conta.
Embora produza parte das próprias peças, ela também compra itens pela internet ou encomenda com "cosmakers" locais. “Gosto de construir e ver que consigo fazer ficar parecido com o personagem, mas também compro pela internet. O mais caro que investi foi R$ 4 mil na fantasia completa da versão All Out da personagem Ahri, do jogo League of Legends”.
Economia Criativa
Transformar arte em renda é o cerne da economia criativa, que abrange setores como moda, design, audiovisual, jogos e arte. A analista de negócios do Sebrae-SP, Sabrina Saeki, explica que a principal diferença dessa modalidade de empreendedorismo é a originalidade.
“Se trata de uma geração de renda por meio da criatividade, cultura, arte e inovação. Normalmente, esses empreendedores se caracterizam pela estética do produto e pela experiência emocional que proporcionam às pessoas”, diz.
Para quem deseja começar, a analista orienta seguir algumas etapas. “É preciso fazer uma pesquisa de mercado e estudar as tendências culturais e de consumo. Definido o público alvo, é indicado criar protótipos para testar o feedback dos clientes e ajustar a oferta conforme a demanda”.
Apesar do potencial, é importante não esquecer da organização financeira, alerta a consultora financeira, Juliana Campos. “Muitos criativos misturam contas pessoais com profissionais, gerando desorganização. Outra armadilha é subestimar o valor do próprio trabalho por receio de cobrar o justo”.
Para evitar crises financeiras, ela indica manter um planejamento baseado na média de receitas e criar reservas para os meses fracos. “É preciso também diversificar: vender produtos digitais, experiências pagas, fazer parcerias ou mentorias. Criatividade e clareza financeira podem e devem andar juntas”, cita.