Espetáculo funde música clássica, mitos indígenas e sabedoria ancestral em Rio Preto

Espetáculo funde música clássica, mitos indígenas e sabedoria ancestral em Rio Preto
Na versão dirigida por Deborah Colker, a música clássica de Stravinsky encontra ritmos brasileiros no espetáculo inspirado por visões ancestrais sobre a origem do mundo (Flavio Colker/Divulgação)

Um clássico da música erudita reinterpretado à luz da ancestralidade brasileira. “Sagração”, novo espetáculo da companhia Deborah Colker, será apresentado em Rio Preto nos dias 24 e 25 de junho, às 20h, no Teatro Municipal Humberto Sinibaldi Neto. Os ingressos estão disponíveis no site Mega Bilheteria por R$ 200 (inteira) e R$ 45 (populares), mais taxa de administração.

Dirigida e coreografada por Deborah Colker, a montagem estreou em março no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e percorre o País com patrocínio da Petrobras e do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. A companhia, que soma mais de duas mil apresentações em 35 países, chega a Rio Preto com sua criação carregada de simbologia, ritmo e poesia.

CRIAÇÃO

O processo criativo de “Sagração” durou dois anos e meio. O espetáculo é uma livre adaptação de “A Sagração da Primavera”, obra composta pelo russo Igor Stravinsky, que ganhou projeção mundial pela montagem estreada em Paris em 1913, com coreografia de Vaslav Nijinsky e produção de Sergei Diaghilev para os “Ballets Russes”. A composição musical é considerada revolucionária por introduzir estruturas rítmicas e harmônicas nunca utilizadas em partituras.

“Quando decidi recontar esse clássico, pensei que teria de ser a partir da cosmovisão de povos originários do Brasil. Stravinsky foi responsável por pontos de ruptura e provocação entre o erudito e o primitivo. ‘A Sagração da Primavera’ representa esses pontos de evolução da humanidade”, lembra Deborah, que também é pianista.

ANCESTRALIDADE

A força da ancestralidade e o impacto da música revolucionária de Stravinsky se encontram na montagem que agora se entrelaça à cosmovisão de povos originários brasileiros, às mitologias judaico-cristãs e a referências científicas sobre a origem da vida.

“Durante esses anos, assistimos e participamos de muitas transformações na cultura, na política e na economia. Chegamos até aqui porque temos este espírito de evolução, que é um tema muito precioso para o novo espetáculo”, afirma João Elias, diretor-executivo e cofundador da companhia.

Em “Sagração”, a narrativa incorpora a sabedoria de Takumã Kuikuro, cineasta indígena que narra, no espetáculo, a lenda de como seu povo recebeu o fogo do Urubu Rei. A dramaturgia se desenrola a partir da figura de uma mulher ancestral — “a avó do mundo”, como define Deborah — e costura cenas inspiradas no Gênesis, como a travessia de Eva e a jornada de Abraão, símbolos da busca por consciência e transformação.

A trilha, com direção de Alexandre Elias, une a partitura original de Stravinsky a ritmos como boi bumbá, coco, afoxé e samba, com instrumentos brasileiros se somando aos acordes clássicos. “Nossa dramaturgia é feita da poesia presente em mitos e teorias que pensam a existência da vida em nosso planeta”, explica Deborah.

O cenário, assinado por Gringo Cardia, traz 170 bambus de quatro metros de altura, simbolizando resistência e flexibilidade. A luz é de Beto Bruel, os figurinos são de Claudia Kopke e a dramaturgia conta com a colaboração do rabino e escritor Nilton Bonder.

“A versão mais recente da nossa espécie é a Homo sapiens sapiens que, assim como outros seres, precisa se adaptar constantemente”, pontua Deborah, destacando a presença das personagens que representam bactérias, herbívoros e quadrúpedes no espetáculo. “Nossa dramaturgia é feita da poesia presente em mitos e teorias que pensam a existência da vida em nosso planeta”, conclui.​​​​​​​​​​​​​​