Pecuária de leite retoma programa Balde Cheio na região Noroeste

A pecuária leiteira do Noroeste paulista deverá expandir as orientações do programa Balde Cheio, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com capacitação dos profissionais e a aplicação de tecnologias aos pecuaristas, tendo como objetivo a melhoria de renda com o leite. Atualmente, produtores da região já recebem orientações e a aplicação de tecnologias do Balde Cheio, porém está sendo relançado pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) para alcançar mais propriedades na região.
O programa terá o relançamento hoje, durante a 62ª Expo Rio Preto, previsto pela Cati (Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo) para às 9h30, com a palestra do pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, André Novo. Ele vai abordar o tema “Programa Balde Cheio no Brasil: impactos para o ambiente e para a sociedade”. A partir das 13h30, será realizado o dia de campo no sítio São João, em Potirendaba, que já aplica as tecnologias do projeto.
“O projeto Cati Leite já é aplicado há alguns anos no Noroeste paulista, quando contamos com a Embrapa para os treinamentos dos técnicos e para que os profissionais levassem o conhecimento aos produtores. A propriedade funciona como uma unidade demonstrativa e ao mesmo tempo uma sala de aula para o técnico, difundindo os conhecimentos do programa para os pecuaristas”, explica o médico veterinário da Cati de Catanduva, Ricardo Santos Silva.
Ele afirmou que o “Cati Leite” é o projeto Balde Cheio sendo executado pelos técnicos de extensão rural da Secretaria estadual de Agricultura. “Estamos retomando o programa e vamos contar com a palestra do pesquisador da Embrapa, que acontece no Recinto de Exposições Alberto Bertelli Lucatto, durante a Intertech Agro”. E o dia de campo, segundo Ricardo, vai contar com a propriedade leiteira de Fernando Ferrari, em Potirendaba.
Sistema intensivo
O Balde Cheio, conforme o pesquisador André Novo é um programa de capacitação dos técnicos da extensão rural para o processo de intensificação da pecuária leiteira. “Para o produtor, esse sistema intensivo significa aplicar as melhores tecnologias para ampliar a produtividade com o leite, mas principalmente aumentar a renda”, diz o pesquisador.
Entre os exemplos sobre o sistema intensivo e as tecnologias, André destaca que o produtor poderá trocar a genética do animal, com uma fêmea muito mais produtiva do que o pecuarista mantinha na propriedade. “As propriedades de leite são muito diferentes e, aplicamos na prática, os conceitos desse programa, sendo que o técnico precisa entender a necessidade de cada pecuarista”, ressalta.
Produtor aumentou capacidade leiteira
Em Potirendaba, o pecuarista Fernando Ferrari conta que estava desanimado com os rumos da propriedade após o falecimento do pai, que tocava o sítio. Ele conta que o programa Balde Cheio, com a parceria e orientação da Cati, o ajudou a não sair da atividade leiteira, além de aplicar as tecnologias e aumentar a capacidade leiteira das vacas, que hoje é de 750 litros por dia.
Fernando comenta que tem no sítio um total de 38 fêmeas, sendo 37 animais em lactação, além de quatro novilhas. “O maior foco do programa também é ter boa produtividade de leite e com o menor custo de produção. Em média, o nosso custo de produção é de R$ 1,80 por litro de leite, sendo que a média do ano passado, para a venda do leite, de R$ 2,80”, afirma.
O pecuarista conta que consegue equilibrar a dieta dos animais com pastejo e com o plantio de capim de boa qualidade. “Um capim bem cuidado e bem manejado, conseguimos trabalhar com menos farelo de soja, o que diminui custo, resolvendo as dificuldades em primeiro lugar da porteira para dentro”, pontua.
O programa Balde Cheio, com a orientação do veterinário Júnior Colombo, da Casa da Agricultura de Potirendaba, foi o salto de eficiência que o pecuarista conta que alcançou a partir de 2013, quando iniciou o programa e mudou a vida da família.
“Os técnicos fizeram uma demonstração em uma propriedade vizinha aqui em Potirendaba, e foi quando conheci o projeto e gostei bastante. A partir disso, comecei a mudar o manejo, com irrigação da pastagem e a dieta dos animais, o que me ajudou a permanecer com a pecuária de leite”, destaca Fernando. (CC)
Trajetória de 23 anos
Conforme o pesquisador André Novo, o programa Balde Cheio tem uma trajetória de mais de duas décadas. A iniciativa foi da Embrapa Pecuária Sudeste, em 1998, e idealizada pelo pesquisador aposentado Artur Camargo, que sempre viu o programa como uma possibilidade de melhorar a autoestima do produtor de leite e dar dignidade às pessoas e bem-estar às vacas.
Dados de 2022 apontam que para cada um real investido em 2022 no Programa Balde Cheio da Embrapa, 44,41 reais foram revertidos para a sociedade brasileira. O valor reflete a adoção da metodologia por produtores de leite de 375 municípios de 18 estados brasileiros. Mais de três mil propriedades leiteiras receberam consultoria individualizada de 247 técnicos em treinamento continuado.
A aplicação das tecnologias reflete em aumento da produtividade e da renda, em função da intensificação e melhorias nos sistemas de produção. Em 2022 foram analisadas propriedades em diferentes estados e com níveis tecnológicos iniciais muito diversos. “Nesse sentido, chama a atenção que, independentemente da produtividade inicial ou da região, a produção com a aplicação de tecnologias adequadas para cada estágio multiplicou por três ou quatro vezes”, ressaltou o pesquisador André Novo. (CC)