Paulinho explica como montou time do Mirassol gastando 10?folha do Palmeiras

Uma gestão responsável e eficiente, um técnico jovem com ideias modernas, alguns atletas experientes para liderar o elenco e um executivo de futebol contratado para administrar egos e acertar nas contratações. Esses são algumas das virtudes do Mirassol, pequeno time do interior paulista que tem deixado grandes times pelo caminho e hoje briga na parte de cima da tabela do Brasileirão.
Ex-jogador de passagem vitoriosa por Corinthians e Barcelona, Paulinho foi escolhido para montar o elenco do time cuja a cidade tem 65 mil habitantes. Ele encerrou a carreira de atleta em setembro e, depois de o clube conseguir o acesso à elite, aceitou a oferta para ser coordenador técnico em dezembro de 2024.
Antes de começar, diz ter feito cursos da Federação Paulista de Futebol (FPF) e LaLiga e viajado a Mônaco para conhecer os processos do clube francês, cujo diretor é o brasileiro Thiago Scuro.
Depois de seis meses, as coisas fluíram melhor até do que o previsto e Paulinho foi promovido em junho para se tornar executivo de futebol. O que tem feito a diferença no seu trabalho, ele entende, são a capacidade de gestão de pessoas - não só dos atletas, mas de todo departamento de futebol - e as contratações assertivas em um ambiente tranquilo, com pressão consideravelmente menor em relação aos grandes clubes do País.
“Eu sou um cara que gosto do dia a dia e tenho um pouco de facilidade em fazer gestão de pessoas. A ideia aqui é fazer com que os funcionários fiquem todos conectados numa página”, explica o executivo de futebol.
“Óbvio que os problemas aparecem no futebol a todo momento. Tem que ter muita sabedoria, muito discernimento e respeito com as pessoas”.
O Mirassol tem tirado pontos dos gigantes do futebol brasileiro, como o Cruzeiro, terceiro colocado, e está invicto contra os quatro grandes do Estado. Empatou com o vice-líder Palmeiras e ganhou de Corinthians, São Paulo e Santos.
Parte importante do sucesso passa pelo técnico Rafael Guanaes, que comanda um elenco equilibrado. Atletas experientes como o goleiro Walter, o lateral-esquerdo Reinaldo e os atacantes Gabriel e Chico da Costa se misturam a jovens em ascensão.
Montar esse plantel foi a tarefa mais desafiadora para Paulinho, que tem pequena margem de erro, dados o orçamento reduzido para investir, em comparação aos clubes ricos. A folha salarial do elenco é de pouco mais de R$ 3,5 milhões mensais, mesmo valor que ganha, por exemplo, o astro holandês Memphis Depay no Corinthians.
Para se ter ideia, conforme números divulgados dos balancetes de 2025, a folha do Palmeiras gira em torno de R$ 40 milhões por mês, ou seja, quase dez vezes maior que a do Mirassol.
“É um desafio muito grande. Acho que o mais difícil é o poder de convencimento. Para contratar um atleta não é fácil”, admite.
“Hoje eu brinco que, para convencer alguns atletas precisamos de 15 dias, 20 dias, um mês, mas não tem problema para mim, é o meu trabalho. E eu sempre deixei claro para esses atletas que quando vou tentar convencê-los, vou até o meu limite. Pode levar dois meses, mas enquanto vou vendo esperança que posso trazê-los, vou continuar”, acrescenta o executivo.
Segundo ele, o “projeto” do Mirassol é o que seduz os atletas, isto é, a possibilidade de jogar em um clube organizado e não correr riscos de ter salário atrasado, por exemplo, ajudam a convencer um jogador.
"Aqui é um clube muito sério, que paga em dia e a cada mês a gente vem procurando sempre se atualizar no mercado no sentido de estrutura, de projeções, porque não podemos ficar para trás."
“Nós sabemos até onde onde podemos ir. Não vamos dar um passo maior que a perna. Existem outras coisas na frente do da parte financeira. Existe uma seriedade, uma lealdade, existe um existe projeção. Provavelmente depois que eles veem a estabilidade, a estrutura, a gestão, acho que eles entendem que a escolha foi certa”.
No ano de seu centenário, o Mirassol não só está perto de se manter na Série A, como passou a sonhar com algo maior. Longe da zona de rebaixamento, o time almeja vaga na Sul-Americana e pode até ser mais ambicioso. Por estar no sexto lugar do Brasileirão, com 32 pontos depois de 19 jogos, não é exagero pensar na Libertadores, embora Paulinho seja cauteloso.
“Individualmente tenho esse desejo, esse sonho e vou lutar para que ele aconteça, que é uma vaga na Sul-Americana porque é da forma que está a competição hoje, nós temos totais condições de conseguir”, crê.
O sucesso do Mirassol deixou Paulinho em evidência. Foram quatro propostas recebidas e todas recusadas. Há duas semanas, ele recebeu a quarta e última oferta, por enquanto, para deixar o Mirassol.
A liga de futebol dos Emirados Árabes Unidos queria que o ex-jogador fosse o principal responsável por negociar a aquisição de jogadores. Ele negou a oferta por estar confortável e prestigiado no Mirassol.
“Tenho que pensar em outras coisas para além da parte financeira. Existe um projeto lindo no Mirassol que é o que eu mais valido. As pessoas que estão aqui e confiam em mim, a família está feliz aqui”.
No início do ano, ele afirmou ter sido procurado por Santos e Sport e decidiu ficar. Fez o mesmo quando a liga de futebol do Catar o procurou para assumir cargo semelhante ao que lhe foi oferecido pela liga do Emirados Árabes. “Acredito que eu ainda tenha algo a entregar para o Mirassol”.