Citricultores apontam desafios com a qualidade da laranja

A safra da laranja 2025-2026 deve avançar nos próximos dias com a colheita da variedade pera e a expectativa dos produtores do Noroeste paulista é de uma fruta com padrão de qualidade mais elevado. O cenário da citricultura ainda é de muitos desafios para a produção, no campo e na indústria, especialmente com o avanço do greening, da oscilação nos preços e de extremos climáticos que afetam o desenvolvimento da fruta.
Segundo citricultores da região, as indústrias estão mais exigentes, neste ano, com a qualidade da fruta, já que neste período de colheita, muita laranja ainda não havia atingido o ponto de maturação ideal para o processamento do suco. “As indústrias estão mais seletivas e não aceitam essa fruta, que no campo é colhida às vezes ainda verde”, conta o citricultor de Rio Preto, Paulo Sader.
Sader explica que a colheita das variedades precoces está em etapa de finalização e os pomares estão com a laranja-pera que devem ser colhidas daqui para frente. “No ano passado, ocorreu uma irregularidade do ciclo de chuvas, o que provocou diversas floradas nas árvores, resultando em uma fruta que não chegou ao ponto de maturação para a indústria”, afirma.
Entre os impactos climáticos e as plantas infectadas pela doença do greening, o citricultor José Claudio Ruiz diz que ainda se observam esses reflexos para o processamento do suco. “Até o momento, ainda percebemos que a indústria não está aceitando a fruta que não se desenvolveu bem, muitas que caíram no chão e não houve peso e tamanhos ideais para a moagem do suco”.
Produtividade
Apesar de o levantamento do Fundecitrus apontar aumento de 36,2% para a temporada 2025-2026 da laranja no estado de São Paulo, o citricultor José Claudio diz que nas áreas em que cultiva a fruta não houve aumento de produtividade nos pomares. “Em termos de produtividade, de volume de fruto, não tive acréscimo em comparação com a safra anterior”.
O citricultor também destaca que os preços pagos pela caixa de laranja também foram mais baixos. “Nos meses de janeiro e fevereiro, a indústria pagou pela caixa de laranja, em média, R$ 100, e atualmente os preços pagos estão entre R$ 45 e R$ 50”, pontua.
O clima muito seco do ano passado, segundo José Claudio, ainda reflete na fruta que entrou em colheita. “A chuva só aconteceu no final do mês de outubro e início de novembro, o que resultou em uma florada tardia”, afirmou.
A expectativa é de que esse ano, com as temperaturas que não estão tão elevadas como em 2024 e as previsões de chuva para o final de setembro, a produção de laranja apresente um cenário mais favorável.
Estratégias com o greening
O avanço do greening, a doença considerada a pior de toda a citricultura mundial, preocupa o setor e tem aumentado na região Noroeste. No estudo do Fundecitrus, a incidência da doença corresponde a 90,36 milhões de árvores afetadas e aumento de 44,35% em 2024 em todo o cinturão citrícola do estado de São Paulo.
Como a doença não tem cura e ainda não se encontrou uma variedade de laranja resistente à bactéria, o pesquisador do Fundecitrus, Eduardo Gorayeb, conta que os produtores devem manter algumas estratégias para o combate ao greening. “Hoje o citricultor já tem mais informação no manejo com os defensivos”, afirma.
O pesquisador diz ainda que conduz experimentos visando diminuir os efeitos causados nas laranjeiras infectadas com a doença. “Ainda não temos o resultado, mas fizemos um experimento com o uso de um antibiótico, que também foi muito usado nos pomares da Flórida, e percebemos uma incidência menor da quantidade de bactéria na planta”, ressaltou. (CC)
Recuperação para o estoque de suco de laranja
Na análise de pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), após quatro temporadas seguidas em volumes baixos, os estoques de passagem de suco de laranja (em junho de 2026) devem registrar certa recuperação na safra de 2025-2026.
Dados da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR) apontam que os estoques de suco totalizaram 146,3 mil toneladas na safra 2024–2025, sendo 25,3% acima do registrado no ciclo anterior. De acordo com pesquisadores do Cepea, esse volume é positivo ao mercado, considerando a escassez de fruta, o que elevou os preços da laranja e impôs grande dificuldade à indústria na produção de um suco com bom ratio (índice de maturidade da fruta).
Conforme o levantamento, com o avanço da safra 2025–2026 e a melhoria da qualidade do suco a partir da entrada da laranja-pera na moagem, os cálculos dos pesquisadores indicam que os estoques podem encerrar a temporada, em junho de 2026, em 200 mil toneladas.
Para o citricultor Paulo Sader, o mercado internacional, sendo o principal consumidor de suco de laranja, esteve com maior impacto de preços altos e uma qualidade inferior da bebida. “O mercado consumidor na União Europeia e Estados Unidos teve esse reflexo, o que diminuiu também o consumo do suco de laranja. Agora, as indústrias e distribuidoras brasileiras, para recuperar mercado, vão precisar elevar a competitividade com outros sucos”, ressaltou. (CC)