Oito em cada dez moradores de rua de Rio Preto sofrem com dependência química

Oito em cada dez moradores de rua de Rio Preto sofrem com dependência química
Morador em situação de rua em calçada na região central de Rio Preto (Guilherme Baffi 13/11/2024)

Oito em cada dez moradores em situação de rua de Rio Preto admitem sofrer com dependência química. Esse foi um dos dados apresentados pelo Censo da População em Situação de Rua 2024, realizado pela Prefeitura e divulgado nesta quarta-feira, 13. O levantamento mapeou as condições de vida dessa população, com o objetivo de embasar futuras políticas públicas. A Defensoria Pública do Estado defende a criação de um hospital psiquiátrico para oferecer aos moradores de rua tratamento público contra a dependência.

Na pesquisa, 756 pessoas foram entrevistadas pelas equipes que participaram do censo. Desse total, 595 moradores (78,7%) admitiram fazer uso de substâncias químicas, sendo que metade deles disseram ser viciados em álcool e outras drogas ao mesmo tempo.

“Essa é a realidade das pessoas em situação de rua em Rio Preto. Chamam muita atenção os dados que mostram o uso de substâncias psicoativas”, diz a secretária municipal de Assistência Social, Helena Marangoni.

A pesquisa

Os dados foram obtidos em março deste ano pela Secretaria Municipal de Assistência Social em parceria com a Pousada da Esperança, a Casa de Cireneu, a associação Madre Tereza de Calcutá e o Albergue Noturno. Também atuaram na pesquisa estudantes do curso de psicologia das universidades Unip e Unilago.

O Censo foi construído por meio de 24 perguntas desenvolvidas que permitiram realizar o mapeamento detalhado do perfil das pessoas entrevistadas, por faixa etária, raça, etnia, gênero, entre outros fatores (veja na arte nesta página).

Conforme o levantamento, 643 moradores são homens, 82 mulheres e 22 se declararam LGBTQ+. O censo da Prefeitura também aponta que a maioria das pessoas em situação de rua, 482, é preta e parda.

Outro dado apontado é que a maioria das pessoas tem um desejo de moradia fixa e emprego para sair desta situação social.

Diagnóstico

Apesar de todo levantamento e diagnóstico apresentado no censo, a Prefeitura não apresentou quais seriam os caminhos para reduzir a quantidade de pessoas que sobrevivem nas ruas.

“Nós estamos terminando um ciclo de quatro anos da atual gestão. Apresentaremos tecnicamente posições e informações para fomentar outras políticas sociais. Não adianta uma política social ficar falando sozinha. Os dados mostram a abrangência e a corresponsabilidade”, disse a secretária.

Helena chama a atenção da necessidade de envolver as cidades da região metropolitana de Rio Preto para participar da elaboração de políticas públicas, porque boa parte dos moradores em situação de rua vem de outras cidades, inclusive de municípios vizinhos.

Para o prefeito Edinho Araújo, os dados são vitais para traçar estratégias de solução do aumento da população em situação de rua em Rio Preto. “Este trabalho é um instrumento importante para estabelecermos quais ações são mais assertivas, prioritárias a serem adotadas. A gente termina o mandato, mas a cidade é de todos e temos de ter um compromisso com ela”, disse o prefeito durante a solenidade de apresentação do censo, feito na tarde de quarta-feira, 13.

O que fazer

O defensor público Júlio Tanone parabenizou a realização do censo, mas diz que, além do diagnóstico, é preciso ter investimentos sociais para resolver o problema.

“Precisa de um investimento em política pública de moradia. O aluguel social ou o programa moradia primeiro são mecanismos que devem ser oferecidos para pessoas em situação de rua, usuárias ou não de álcool ou drogas, para diminuir o problema”, diz o defensor.

Com relação à dependência, Tanone sugere mais investimentos na Saúde, com criação no sistema público de acolhimento e internação voluntária.

“Precisa ter um investimento em saúde mental. Para isso, é preciso reestruturação do programa Consultório na Rua, feito pela Secretaria Municipal de Saúde. Tem que ser feita as internações voluntárias, mas que também seja estruturado um serviço psiquiátrico, em hospital geral”, diz o defensor, que critica a criminalização dos moradores de rua e as soluções simplistas.

DADOS

Pesquisa

  • Realizada entre 11 e 15 de março
  • Participação de 61 estudantes da Unip e da Unilago e 86 trabalhadores da Assistência Social
  • Ao todo, 756 entrevistas foram contabilizadas

Perfil

Gênero

  • Homem: 643
  • Mulher: 82
  • Mulher transgênero: 13
  • Homem transgênero: 5
  • Outro: 4
  • Travesti: 4
  • Não soube informar: 2
  • Prefere não se classificar: 2
  • Não quis informar: 1

Faixa etária

  • 15 a 19 anos: 5
  • 20 a 29 anos: 72
  • 30 a 39 anos: 204
  • 40 a 49 anos: 276
  • 50 a 59 anos: 141
  • 60 a 69 anos: 45
  • 70 a 79 anos: 4
  • Sem informação: 9

Cor/Raça

  • Pardo: 363
  • Brando: 268
  • Preto: 119
  • Indígena: 5
  • Não quis informar: 1

Grau de instrução

  • Fundamental incompleto: 346
  • Fundamental completo: 100
  • Médio incompleto: 102
  • Médio completo: 135
  • Não quis informar: 20
  • Não soube informar: 5
  • Sem instrução: 26
  • Superior incompleto ou mais: 22