Prisão de líderes de grupos rivais resulta em 'cessar-fogo' na guerra de bairros em Rio Preto

Prisão de líderes de grupos rivais resulta em 'cessar-fogo' na guerra de bairros em Rio Preto
Delegado Roberval Costa Macedo, titular da Delegacia de Homicídios (Guilherme Baffi 3/4/2025)

O trabalho de inteligência realizado pela Delegacia de Homicídios, da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Rio Preto, resultou em um “cessar-fogo” inédito de 100 dias na chamada guerra de bairros. Desde 2020, foram 160 crimes contra a vida no conflito, com 44 mortes, alçando Rio Preto ao posto de cidade mais violenta do Estado de São Paulo, proporcionalmente ao número de habitantes.

Por meio de ações coordenadas com o Grupo de Operações Especiais (GOE) e compartilhamento estratégico de informações com a Delegacia de Investigação Sobre Entorpecentes (Dise), criminosos considerados lideranças de bairros rivais foram presos. “O fato de a última ocorrência relacionada à ‘guerra’ ter ocorrido em dezembro mostra que os presos eram peças fundamentais no conflito”, afirma o delegado Roberval Costa Macedo, titular da DH.

O delegado se refere à execução de Lucas Gabriel Martins, conhecido como Boiadeiro, de 19 anos, morto a tiros no dia 22 de dezembro, enquanto dormia. As investigações apontam que o rapaz tinha sido expulso do bairro João Paulo 2º, porque era considerado integrante do bairro inimigo, o Santo Antônio.

Dados

Levantamento realizado pelo Serviço de Medidas Socioeducativas da Vara da Infância e Juventude de Rio Preto mostra que, desde 2020, foram registrados 44 homicídios e 116 tentativas de homicídios envolvendo adolescentes ou jovens com idades entre 13 e 21 anos – seja na condição de vítimas ou de autores dos crimes.

O relatório aponta que o bairro Santo Antônio, na região Norte de Rio Preto, é o local com mais mortes, 30. Em seguida, aparece a Vila Toninho, com 16, que é considerado um bairro “aliado” do João Paulo 2º que, por sua vez, registra 11 homicídios.

“Verificamos que grande parte dos infratores abandonaram a escola há muito tempo. Isso tira deles a capacidade de socialização, de cumprir regras mínimas. Adolescente fora da escola é um risco. Imaturos, eles são cooptados muito facilmente pelas ilusões que o crime organizado oferece”, diz o juiz da Vara da Infância e Juventude, Evandro Pelarin.

Segundo o promotor André Luís de Souza, o trabalho do Ministério Público da Infância é discutir políticas públicas de construção de espaços culturais e esportivos para que crianças e jovens não sejam cooptados pelo crime.

Lideranças

Para o delegado Roberval Costa Macedo, o “cessar-fogo”, na guerra que chegou a ceifar até três vidas em uma única semana, pode ser atribuído à prisão de criminosos tidos como lideranças dos bairros Santo Antônio e João Paulo 2º. “Envolvidos no tráfico de drogas, eles aliciam adolescentes, fornecem armas e até determinam os alvos do lado inimigo. Quando não encontram quem procuram, matam ‘vítimas colaterais’, que nem sempre estão no crime, mas são amigos de quem está”, diz.

Uma novidade na atuação da delegacia especializada foi a produção de um relatório cronológico dos homicídios e a criação de um organograma com os envolvidos, permitindo à Polícia Civil relacionar os casos, identificar “chefes” e produzir provas sobre associações criminosas.