Região de Rio Preto tem mais mortes por dengue neste ano do que em 2024

Dados do governo do Estado mostram o crescimento da letalidade da dengue na região de Rio Preto. Neste ano, já foram 128 mortes pela doença, contra 123 registradas em 12 meses de 2024. A estatística pode ser ainda maior, porque há 35 óbitos em investigação. O aumento se dá mesmo com menos casos registrados da doença: em todo o ano passado, foram 95.765, enquanto neste ano são 93.884.
Pesquisador da Famerp, Maurício Lacerda Nogueira aponta como um dos principais fatores para o aumento das mortes a circulação dos sorotipos 2 e 3 na região de Rio Preto.
"Essa letalidade pode ser atribuída, a uma circulação muito importante da dengue tipo 2, de genótipo muito mais cosmopolita, com um vírus conhecidamente mais agressivo. O segundo fato são os casos de dengue vírus tipo 3, que causam as manifestações mais graves da doença. E a outra coisa a ser verificada é saber qual foi a qualidade do atendimento primário das vítimas. É fundamental que seja de alta qualidade e muito rápido", afirma.
Para Jesem Orellana, pesquisador da Fundação Fiocruz, o aumento de letalidade pode ter ocorrido pelo maior rigor dos governos municipais em checar os óbitos suspeitos e colher amostras de material biológico para pedir análise em laboratório, o que evita a subnotificação da epidemia.
"O número de mortes é sutilmente maior até abril de 2025, em comparação com o total de todo o ano de 2024. Muito provavelmente, ao fim de 2025, o número total será substancialmente maior do que em 2024. Esse aumento pode ter sido influenciado por diversos fatores, incluindo melhorias na vigilância/diagnóstico de casos mais graves ou mesmo o sorotipo circulante, por exemplo", diz o pesquisador da Fiocruz.
Já Gonçalo Vecina, ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), acredita que deve se levar em consideração os fatores climáticos, com as altas temperaturas, condições que podem favorecer a maior proliferação do mosquito transmissor. "Importante dar uma olhada nas curvas de temperatura da região e o regime de chuvas", diz o pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Melhora
Andréia Negri, da Vigilância Epidemiológica de Rio Preto, afirma que a epidemia foi iniciada no final de 2024, provocada pela reintrodução do sorotipo dengue 3 e pela entrada do sorotipo dengue 2 Cosmopolitan, diante dos quais grande parte da população estava suscetível. "Nesse cenário, coube ao poder público intensificar as ações de enfrentamento ao Aedes para mitigar e reduzir os impactos. Felizmente, essa mitigação já é perceptível," diz.
Ela destaca como ações tomadas em Rio Preto os investimentos em novas tecnologias de combate ao vetor, em parceria com o Ministério da Saúde; as campanhas de conscientização; as ações de nebulização realizadas aos sábados; a intensificação da retirada de criadouros pelos agentes de saúde; as parcerias intersetoriais; e a priorização das ações de enfrentamento à dengue por todas as secretarias. "Além disso, houve avanços importantes na assistência, como a ampliação da Atenção Básica, com unidades funcionando em horários estendidos e aos fins de semana, bem como o apoio da Força Nacional do SUS".