Saúde, indústria, tecnologia e beleza enfrentam uma escassez de profissionais qualificados

Saúde, indústria, tecnologia e beleza enfrentam uma escassez de profissionais qualificados
Helencar Ignácio (a esquerda), diretor-geral da Famerp, conversa com o presidente do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Crefito) da 3ª Região, Raphael Ferris (de azul, ao centro) (Divulgação/Fabio Monteiro)

A formação insuficiente, evasão de cursos presenciais e baixa atratividade, dificultam o preenchimento de postos de trabalho em diversas áreas. Seja na indústria, na saúde ou em tecnologia, há vagas que não são preenchidas por falta de profissionais qualificados no mercado. E, em alguns casos, além de pessoal, faltam entidades que disseminem o conteúdo.

Especialistas apontam que, para reverter o cenário, o fortalecimento da educação técnica e presencial, aliado a parcerias institucionais.

Um destes casos se refere à Terapia Ocupacional. Segundo o presidente do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Crefito) da 3ª Região, Raphael Ferris, avalia haver um campo vasto de atuação para terapeutas ocupacionais em Rio Preto e nos 104 municípios que compõem o Departamento Regional de Saúde (DRS-15).

“O Terapeuta Ocupacional é um profissional ‘chave’ para o mercado de trabalho. Pensando em empregabilidade, a terapia ocupacional é uma excelente escolha, há espaço. Você tem os salários muito mais atrativos em comparação a outras profissões da saúde, não ganha menos de R$ 10 mil nos ambientes das grandes cidades”, afirma.

“Temos grandes oportunidades de mercado, mas existe um vazio assistencial provocado pela falta de cursos de graduação para formação de Terapeutas Ocupacionais”, disse. De olho nesta lacuna a Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) trabalha para criar um curso de graduação na área. “A perspectiva de abertura de cursos na área é bem promissora”, diz Raphael. A Famerp conta com um curso de pós-graduação na área.

Indústria

A diretora-titular do Ciesp Noroeste Paulista, Aldina Clarete D’Amico, relata problemas semelhantes na indústria. O setor, que emprega 24,2 mil pessoas em Rio Preto segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), tem carência de profissionais capacitados para funções operacionais e técnicas.

“Tudo que diz respeito à questão operacional mais técnica, guilhotineiros, dobradores, prensistas, pintores, soldadores, lixadores, precisam de especialização e conhecimento técnico, e são cada vez mais difíceis de encontrar”, afirma.

Na visão da diretora, o cenário atual é reflexo do descompasso entre formação educacional e avanços industriais, que passam pela defasagem no ensino básico e da pouca valorização do ensino técnico.

“Profissões essenciais como soldadores, eletricistas e operadores de máquinas têm atraído pouco interesse dos jovens, agravando a situação. O envelhecimento da força de trabalho e a migração de talentos para o exterior também colaboram para essa escassez”, explica.

Para suprir a demanda, o Senai deve inaugurar, em 2026, um centro universitário com curso de Mecatrônica, enquanto o Ciesp já oferece mensalmente capacitações para profissionais da indústria. A chegada do campus da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) com um curso de Engenharia voltado à indústria de transformação também é considerada uma conquista estratégica.

Tecnologia

O presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Tecnologia da Informação (Apeti), Gerson Pedrinho, destaca que o setor de TI em Rio Preto continua em expansão, mas sofre para encontrar mão de obra qualificada.

“As maiores dificuldades estão na contratação de desenvolvedores de software, especialmente em tecnologias modernas, além de profissionais de suporte técnico e infraestrutura”, conta.

Segundo Pedrinho, a ausência de cursos técnicos presenciais contribui para o descompasso entre o que o mercado precisa e a formação disponível. Isso atrasa o preparo dos profissionais, que não têm onde estudar e aumenta a fuga de talentos, já que o setor conta com muitos profissionais que podem trabalhar remotamente para empresas de grandes metrópoles do Brasil e do mundo.

“Muitos jovens interessados na área encontram dificuldade em acessar formações práticas e com forte conexão com o mercado local. Isso resulta em um tempo maior para qualificação, reduz a quantidade de profissionais prontos para o mercado e limita a capacidade de retenção de talentos na própria cidade”.

A Apeti tenta preencher essa lacuna com iniciativas como o Galera Tech, voltado aos estudantes da rede pública de ensino.

Beleza

O cabeleireiro Silvio Amaral, do Bioma Laces Rio Preto, relata que a área da beleza também enfrenta escassez de novos profissionais, especialmente iniciantes e auxiliares.

“A cada dia, isso se dificulta. Antes, recebia muitas mensagens e currículos pessoalmente. Hoje existe uma procura menor. Não sei se é porque há poucos cursos, ou se as pessoas deixaram de acreditar na profissão”, conta.

Para estimular o interesse na profissão, o Grupo Laces busca aproximações com escolas, e apresenta palestras e programas de mentoria, criando planos de carreira que mostram aos jovens que a profissão oferece crescimento real. “A ideia é despertar o interesse por esse universo da beleza, tão rico e cheio de possibilidades”, explica Silvio.

(Colaborou Ana Beatriz Aguiar)