Venda de veículos usados cresce e anima setor em Rio Preto

A comercialização de veículos usados no Brasil cresceu em janeiro de 2025, com total de 1.224.616 unidades negociadas. Em Rio Preto, os donos de garagens sentem o aumento, mas vivem o temor de um eventual arrefecimento no ritmo das vendas em função dos juros mais caros.
O balanço foi divulgado pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), apontando um aumento de 2,1% em relação ao mesmo período de 2024. O crescimento reflete no descolamento dos preços entre veículos novos e usados.
Os automóveis comerciais leves foram os mais negociados, somando 901.389 unidades em janeiro de 2025, um crescimento de 1,1% em comparação ao ano passado. Os modelos com até 3 anos de fabricação, os considerados seminovos, representaram 9,7% do total de veículos vendidos no mês.
No segmento de ônibus e caminhões, o desempenho também foi positivo no comparativo anual, com crescimento de 2,9% em relação a 2024, saindo de 27.695 para 28.789 unidades. Já as motocicletas registraram 279.601 unidades transacionadas em janeiro, alta de 5,8% comparado ao mesmo período do ano passado (264.223).
Fatores
O avanço nas transações de veículos usados pode ser atribuído a diversos fatores como diferença de preços entre veículos novos e seminovos, impulsionando a busca por modelos mais acessíveis.
“É um aumento positivo, considerando que os veículos novos também tiveram aumento de 14,1% nas vendas em 2024, o que reflete a recuperação da renda em todos os níveis. Por outro lado, a busca por veículos seminovos reflete um descolamento dos preços de veículos novos da renda da maioria da população. Uma vez que 90% da população ganha menos que R$ 3.5 mil e que não contam com o acesso aos veículos de 1 mil cilindradas, que em 2024, o veículo 1.0 mais barato, foi vendido a R$ 73 mil”, diz o economista José Mauro da Silva.
Por outro lado, a desvalorização do carro zero é outro fator que, segundo o economista, precisa ser considerado. Enquanto o carro zero “perde” valor instantaneamente, o carro usado tem um ritmo de depreciação que pode ser menor.
“Quem opta por comprar ou trocar por um veículo seminovo está fugindo das taxas de um veículo zero e da desvalorização de cerca de 10% ao sair da concessionária, assim, ao adquirir um veículo com menos de 50 mil km, considerado novo, não tem essas perdas” diz.
DECISÃO
A decisão de trocar de carro envolve outros fatores, além do preço. Seja conforto ou até mesmo a quilometragem do automóvel. “Demorei um pouco para vender meu antigo, mas vendi particular e comprei outro na garagem. Comprei usado porque saia mais barato, troquei por ser mais novo e menos quilômetros rodados” explica.
A questão financeira é outra que precisa ser vista de perto. Segundo o professor Gustavo Zanusso, os valores mais acessíveis facilitam também o financiamento. “Já tive outros carros antes, quase todos que tive foram comprados por financiamento. Optei por um usado por ter valores mais acessíveis e boa conservação, na hora de comprar considerei a marca, modelo, motorização e valores”, conta.
IMPACTO
O empresário e proprietário da Mazola Automóveis, Osmar Antônio Manchini, diz que o aquecimento de suas vendas são mediante financiamentos, por conta dos juros menores.
“As vendas melhoraram em fevereiro, os bancos que estão financiando mantiveram os juros antes dessa última taxa da Selic. Mas se tiver juízo em um carro mais velho, não faz financiamento, porque há 1 ano pagava 1,40, hoje paga 2,10” diz.
O garagista Cláudio dos Santos, conta que em sua empresa, GB Veículos, as pessoas estão assustadas com os juros e receosas em trocar de carro. “A pessoa vai financiar e o juro está muito alto, acaba desistindo. O pessoal está procurando o modelo mais barato, dão o usado na troca e financiam o resto em outro usado, por exemplo, trocam um carro ano 2010 para um 2015” explica.
TEMORES
A projeção para o mercado de usados e seminovos em 2025 ainda é incerta. Apesar do crescimento registrado no início do ano, o economista José Mauro da Silva alerta que a tendência pode desacelerar nos próximos meses.
“Mesmo com a perspectiva do Banco Central de alta nas taxas de juros, a expectativa da renda média do brasileiro é atingir R$ 3.050 mensais, o que, a meu ver, não é suficiente para acessar um veículo zero, por outro lado, possa ser um fator para impulsionar o mercado de veículos usados”, analisa.
Enquanto isso, os lojistas ficam com a pulga atrás da orelha. “Tenho que apertar a ‘botina’, porque a Selic tem previsão de chegar a 16% até junho, o que esperar com isso? Tenho que sobreviver”, afirma Manchini.
Cláudio também expressa preocupação com a taxa de juros para 2025. “Se não abaixar os juros, será muito ruim”, diz.
(Colaborou Ana Beatriz Aguiar)