Colheita do algodão na região de Rio Preto chega ao fim com produtividade menor
A crise climática atingiu a produção de algodão no País e, no Noroeste do estado de São Paulo, a colheita foi finalizada com volume menor da fibra, reflexo do veranico que afetou o desenvolvimento das plantas no início da safra. O cenário para a cultura é de que muitos produtores deverão diminuir áreas de plantio para a próxima safra, já que os custos com a lavoura elevam a manutenção da fibra no campo.
Na região de Riolândia, principal polo de plantação do algodão no Noroeste paulista, o veranico que se prolongou no mês de fevereiro trouxe impacto para os produtores que cultivam a planta no sequeiro. Mesmo os produtores com o pivô para a irrigação tiveram problemas com a floração e frutificação do algodão, impactando na baixa produtividade da lavoura.
“O algodão é uma cultura de custo muito alto para o produtor e quando acontece como nesta safra, que não há uma boa valorização dos preços, estreita muito a nossa margem de lucro. A situação da economia global e os conflitos entre alguns países foram alguns fatores que deixaram a cultura do algodão muito complicada nesta safra”, afirma Laerce Maximiano.
O produtor destaca que o clima não contribuiu com os plantios do algodão na região, mas a questão climática também afeta as produções de outros estados brasileiros. “Temos informações de que muitas áreas de sequeiro também não vão ter cultivos na região do Nordeste do País, o que pode diminuir a oferta de algodão. Então temos ainda alguma expectativa de plantio para a próxima safra”, destacou.
Alto custo
Segundo o agrônomo e agricultor, Diogo Mendonça, os plantios de algodão no Noroeste começam no mês de dezembro e a expectativa para a próxima temporada não é muito animadora. “O que trava o algodão é o alto custo de produção entre maquinário, insumos e mão de obra, ou seja, o custo fica engessado com o que gastamos no campo”.
Diogo ressalta ainda que para os produtores está difícil até o planejamento de compra de insumos para o início dos novos plantios, após um ano de preços muito baixos pagos no campo. “Hoje, a situação é de que falta recurso (crédito) para a compra de insumos e as revendas não querem vender para o produtor sem uma garantia”, afirma.
Ele ainda pontua que a diminuição de área para o plantio de algodão deverá ocorrer na produção regional do algodão, caso a remuneração da fibra fique tão baixa. Atualmente, os produtores comentam que o preço ficou muito abaixo do esperado, chegando a R$ 100 a arroba da pluma.
Faltou chuva
Produtores da região de Riolândia explicam que a falta de chuva interferiu muito na produção de algodão neste ano. Além do algodão, alguns produtores plantam a soja e fazem rotação de cultura utilizando sistema de irrigação com pivô central. Porém, apesar de os plantios se desenvolverem melhor em área irrigada, o veranico entre os meses de fevereiro e março prejudicou o algodão.
“Os agricultores que plantaram em sequeiro tiveram muitas perdas, já que faltou chuva entre um período muito grande, durou cerca de 50 dias essa estiagem. Apesar do algodão ser tolerante à falta de chuva, até mais do que outras culturas como milho e soja, um veranico de muitos dias complica a produção da fibra”, explica o agrônomo da Secretaria estadual de Agricultura, Flávio Tokuda.
Para o produtor Arquimedes Celeri, a safra deste ano foi de muito prejuízo na região Noroeste. Ele calcula ainda que muitos produtores vão deixar a cultura do algodão. “Aqui não choveu e vamos ter uma queda de 80% da área plantada no estado de São Paulo”, analisa.
O agrônomo explica que o risco climático com a cultura do algodão ocorre todos os anos, mas nesta safra foi uma combinação de fatores que resultou em uma expectativa menor com a cultura. “O produtor desanima por conta do clima e também dos preços baixos pagos no campo”, finaliza. (CC)
Conab estima queda de produtividade e aumento de área
Apesar da quebra de produtividade, que atingiu 80% das áreas de sequeiro no Noroeste paulista, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima um aumento de área cultivado de algodão em 2,5%. Porém, o levantamento aponta uma retração na produção de algodão em pluma, de 3,5%, reflexo da baixa produtividade em decorrência do clima para safra 2025-2026.
Segundo o estudo, após o desempenho recorde observado na safra 2024-2025, com volume de 4,08 milhões de toneladas de pluma de algodão, para o ciclo 2025-2026 a previsão é de que a produção alcance 4,03 milhões de toneladas, cultivadas em 2,14 milhões de hectares. Apesar do aumento de 2,5% na área prevista, a produção deverá ser 1,1% inferior à anterior em virtude da estimativa de queda de produtividade de 3,5%.
A conjuntura econômica global atual e o cenário de incertezas, provocados pelas medidas tarifárias adotadas pelo governo norte-americano têm gerado insegurança no mercado internacional de algodão, conforme avaliam os pesquisadores da Conab. Além disso, a demanda interna da pluma vinha apresentando sinais de recuperação, impulsionada pelo crescimento do setor têxtil.
No entanto, a Conab analisou que o setor têxtil apresentou retração no final do primeiro semestre e reduziu a compra da fibra. O consumo interno de algodão, conforme o levantamento deverá alcançar cerca de 730 mil toneladas neste ano, representando uma redução de 2,67% em comparação com o ano anterior. (CC)

Redação 



