Empresas da região de Rio Preto investem em descarbonização

Empresas da região de Rio Preto investem em descarbonização
Indústria de cimento é uma das que mais emite carbono; Protendit tomou providências para reduzir emissões (Divulgação)

Um dos pilares da sustentabilidade, a descarbonização atrai cada vez mais os olhares das empresas da região. A medida, que visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE), mira práticas mais sustentáveis na produção industrial e no dia a dia.

O Brasil ocupa a 48ª posição no ranking de sustentabilidade segundo o Índice de Performance Ambiental (EPI, na sigla em inglês). O indicador foi desenvolvido pelas universidades de Yale e Columbia, nos Estados Unidos.

Nele são observados 58 indicadores de desempenho em 11 questões ambientais para pontuar 180 países e o respectivo progresso de cada um deles para mitigar as mudanças climáticas, melhorar a saúde ambiental e proteger a vitalidade do ecossistema.

E para os indicadores serem atingidos o caminho é o da pesquisa. O Departamento de Química e Ciências Ambientais da Unesp de Rio Preto possui estudos patenteados sobre o processo de carbonização hidrotérmica, uma das estratégias para auxiliar o processo de descarbonização.

“Nossa proposta é transformar biomassa em carbono hidrotérmico, material rico em carbono recalcitrante. Temos feito a partir do lodo de esgoto da estação de tratamento de efluentes e também a partir da vinhaça ou bagaço de cana-de-açúcar”, conta a professora Marcia Cristina Bisinoti.

“Esse material é aplicado ao solo exatamente para entender o quanto ele consegue capturar de gás carbônico e quanto ele libera em nutrientes para o crescimento de plantas. A partir dessas biomassas a gente também produz um carvão, feito por processo de carbonização hidrotérmica, com a propriedade de magnetismo, ou seja, de ser atraído por um ímã”, afirma.

Iniciativas

Segundo estudo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, feito em 2012, a indústria do cimento foi responsável por 29% das emissões de CO₂ de processos industriais naquele ano. Por isso, a busca por alternativas no setor só aumenta desde então.

“O cimento é um dos principais emissores de gás no setor, e por isso adotamos menor aplicação de cimento, com aditivos de ponta, para alcançar maior resistência e menor consumo de água”, conta o CEO da Protendit, Ricardo Panhan.

Ainda segundo Panhan, a indústria também cortou processos para gerar ainda menos carbono. “Eliminamos processos que antes demandavam alta energia, como a cura térmica, extinta em nossas unidades do interior. Isso significa que não utilizamos mais combustíveis de nenhum tipo para a geração de vapor” diz.

Já a Poty Cia. de bebidas, relata investimentos neste campo desde 1993, quando construiu a estação de tratamento de efluentes, que trata a água utilizada nos processos de produção antes de ela ir parar no sistema de esgoto da cidade.

Segundo José Luiz Franzotti, este foi somente o primeiro passo. “Temos coleta seletiva, gestão de resíduos, gestão de eficiência no consumo de energia elétrica, controle de emissão de gases, logística sustentável na entrega de produtos, frota de veículos flex e caminhões e carretas com diesel de baixo teor de enxofre”, afirma.

A empresa ainda tem o Projeto Ecoração, que leva cultura e educação ambiental às escolas e a Poty Ambiental, voltada a reciclagem de materiais plásticos e logística reversa especializada, transformando-o em material virgem para outros produtos.

“O trabalho de reciclagem gera cerca de 60 empregos diretos e em 2024 fechou a venda de quase 4 milhões de toneladas de resíduos de plástico, papelão, alumínio e embalagens PET, destinados às empresas que transformam os materiais em novos produtos”, diz Franzotti.

Importância

A adoção de práticas de descarbonização pelas empresas transcende a mera adequação ambiental e se insere em um contexto jurídico, econômico e estratégico essencial para a perenidade dos negócios, explica a advogada Tainá Espurio, especialista em direito ambiental e engenheira ambiental e responsável pela filial do Martins Zanchet Advocacia Ambiental.

“A crescente internalização de compromissos climáticos no ordenamento jurídico nacional e internacional impõe obrigações diretas e indiretas às corporações. As empresas que não implementarem estratégias de mitigação e compensação de emissões enfrentarão barreiras comerciais, riscos reputacionais e até restrições de acesso a crédito sustentável e penalidades regulatórias”, conta.

O processo de transição para um modelo sustentável exige um planejamento estratégico integrado, e os investimentos iniciais variam em função de cada setor.

“O investimento inicial envolve, geralmente, a realização do Inventário de Emissões de Carbono, que pode ter valores a partir de R$ 20 mil para pequenas e médias empresas e ultrapassar R$ 500 mil para corporações de grande porte que demandam estudos mais complexos”, conta. (Colaborou Ana Beatriz Aguiar)