Queda no preço da cebola tem impacto na produção regional

Consumida pela maioria das famílias brasileiras, a cebola tem variações no cardápio, seja como salada, para condimento ou tempero dos alimentos. Nas lavouras da região, agricultores contam que a produtividade impulsionou a alta oferta no mercado e os preços pagos não estão garantindo a lucratividade. Além disso, a expansão da cultura para diversas regiões do País e a mecanização da plantação trouxe mais impacto para o cultivo no Noroeste paulista.
“O preço pago no campo está uma vergonha, temos comercializado a R$ 0,50 o quilo para o cerealista e o supermercado tem comprado a cebola por R$ 30,00 (saco de 30 kg)”, afirma o produtor Fernando Lisboa, que possui área plantada de quatro hectares no município de Lavínia. O cenário para a safra da cebola, segundo os produtores, é de prejuízo neste ano.
O excesso de oferta nacional tem refletido nos preços pagos aos produtores da região e nos valores baixos também na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). Nos supermercados, o quilo da cebola está custando para o consumidor R$ 0,90, em média, mas no campo, os produtores da região explicam que comercializam o quilo a R$ 0,40 ou R$ 0,50.
Segundo o agrônomo Gilberto Massami, da Casa da Agricultura de Lavínia, a mecanização da lavoura de cebola abriu mais espaço para produtores de diferentes regiões do País, cultivar a hortaliça. “Antes do plantio direto, os agricultores plantavam o bulbo individualmente, um trabalho muito desgastante. Hoje, com a máquina para o plantio direto e as adaptações para a colheita foram atraindo mais produtores, elevando a oferta”, pontua.
CLIMA
Nesta safra, a semeadura da cebola na região, entre os meses de fevereiro e março, esteve mais apropriada em relação ao clima. Segundo Massami, a seca de anos anteriores não prejudicou tanto a plantação e o clima mais ameno favoreceu a colheita, que se iniciou em agosto e deve permanecer até o mês de outubro.
O agrônomo explica que ao semear a cebola nesta época, principalmente no estado de São Paulo, o crescimento ocorre em condições adequadas de temperatura. A partir do final de junho, quando durante o dia a temperatura é mais quente e à noite, clima mais ameno, a cebola se desenvolve muito bem.
“Tivemos essas condições de clima neste ano, a cebola está muito bonita nas lavouras da região, com clima ideal para o seu desenvolvimento. No entanto, há uma alta oferta do produto, sendo que o agricultor não consegue segurar muito tempo a cebola, é um alimento que estraga no armazenamento muito longo, daí o problema de escoar a cebola”, diz Massami.
Produção de cebola se concentra no Sul do País
Nos dados do último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil produziu 1,639 milhão de toneladas de cebola em 2023. Ainda segundo o levantamento, o estado de Santa Catarina é o maior produtor da hortaliça no País. Na região Sudeste, os estados de São Paulo e Minas Gerais se destacam com a produção, além do Nordeste, que mantém as safras o ano todo com a maioria das lavouras que utilizam a irrigação.
No Noroeste paulista, o plantio de cebola exige o sistema de irrigação e os agricultores optam pelo plantio direto, um método de semeadura que é mecanizado. Conforme o agrônomo, Gilberto Massami, no município de Lavínia a área de produção se concentra em pouco mais de 12 hectares do cultivo de cebola.
Há mais de duas décadas cultivando cebola, Takao Masunari diz que a tecnologia na lavoura foi importante, mas a concorrência trouxe impacto para o exigente trabalho com a hortaliça. “Sou da época em que se plantava o bulbo, mas hoje faço o plantio direto e utilizo a irrigação. Com a mão-de-obra mais difícil, essas técnicas nos ajudam, mas traz também a alta oferta do alimento”.
Ele comenta ainda que a expectativa com a cultura não é das melhores e que pretende abrir mão dos nove hectares cultivados com cebola. Assim como outros produtores que deixaram de plantar a cebola e investiram na cana-de-açúcar, Takao pontua que diversificou a propriedade, com plantios de cana e de pecuária. “Para a próxima safra acho que não vou plantar mais cebola, não compensa”, ressalta. (CC)
Conab avalia queda
No boletim do setor hortigranjeiro, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) analisou que em julho, o movimento preponderante para batata, cebola, cenoura e tomate foi de baixa.
Para a cebola, na pesquisa da Conab, os preços tiveram queda de 31,61%, maior que em junho, quando a redução foi de 14,87%. Em julho, a diminuição de preço foi em todos os entrepostos das Ceasas analisadas. Esse cenário explicou a queda de preços em vários estados brasileiros analisados. Além da maior oferta, a Conab aponta que, atualmente, a produção está pulverizada pelo País, e não concentrada somente na região Sul.
Segundo o levantamento, a produção da cebola pelo estado de Santa Catarina, maior polo de plantações, se recuperou em 2025 da quebra ocorrida no ano passado, com as intensas chuvas ocorridas entre o final de 2023 e o início de 2024.
Nesse ano, a Conab destacou que as importações de cebola foram menores que em 2024, já que os níveis de preço não foram atrativos ao importador, como no ano anterior. (CC)