Dez escolas estaduais da região de Rio Preto vão adotar modelo cívico-militar

Dez escolas estaduais da região de Rio Preto vão adotar modelo cívico-militar
Escola Octacílio Alves de Almeida, em Rio Preto, é uma das selecionadas na região (Edvaldo Santos 17/3/2025)

A escola estadual Octacílio Alves de Almeida, em Rio Preto, e outras nove unidades da região estão entre as 100 escolas paulistas selecionadas pelo governo do Estado para implantarem o modelo de educação cívico-militar a partir do dia 28 de julho. A previsão é que 50 mil estudantes sejam impactados. As unidades de ensino foram escolhidas entre 17 da região que aprovaram em plebiscito junto à comunidade escolar a participação de militares da reserva no desenvolvimento de atividades extracurriculares cívico-militares, organização e segurança escolar. O investimento com a contratação dos monitores será de R$ 7,2 milhões, segundo a Secretaria de Educação do Estado.

Entre as escolas selecionadas estão duas de Catanduva: Joaquim Alves Figueiredo e Professor Vitorino Pereira, além da Doutor Wilquem Manoel Neves (Olímpia), Pedro Teixeira de Queiroz (Novo Horizonte), Libero De Almeida Silvares (Fernandópolis), Tonico Barão (General Salgado), Professora Alzira Salomão (Nova Granada) Pedro Pedrosa (Nhandeara) e Profª Sarah Arnoldi Barbosa (Votuporanga).

Como o número de unidades que aprovaram o modelo foi superior à meta de 100 escolas previstas para 2025, a Secretaria de Educação adotou critérios de seleção. Entre eles, existência de pelo menos uma escola por município, o índice paulista de vulnerabilidade social (IPVS) e o resultado no Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo). Com isso, sete escolas da região ficaram de fora da lista (três de Catanduva, três de Fernandópolis e uma de Olímpia)

Segundo o Governo do Estado, dos 89 municípios contemplados com o programa, 80 são cidades com IDH abaixo da média estadual e 37 estão abaixo da média nacional.

Inscrição

Inicialmente, quatro escolas de Rio Preto se inscreveram para passar pelo processo de habilitação no programa, porém três não tiveram o apoio da comunidade escolar para seguir no projeto.

Única representante do modelo cívico-militar na cidade, a Octacílio, localizada no bairro Residencial Rio Preto 1, registra alunos com nível socioeconômico abaixo da média estadual, que é 5,29. A unidade marcou 5,26. No entanto, quando a leitura é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o desempenho da escola é satisfatório. Registrou 5,2 de média nos anos finais do ensino fundamental, um ponto a mais que a média estadual, que é de 5,1.

“Um problema é que, com o tempo, a informação de que essa escola não tinha um baixo desempenho antes da implementação do modelo cívico-militar provavelmente vai se perder, e ela passará a fazer parte da estatística de escolas no modelo cívico militar com bom desempenho. Nesse sentido, há o risco de que se tenha a impressão falsa de que foi o modelo que proporcionou esse índice positivo”, pondera a professora Mônica Galindo, especialista em Educação.

Segurança

A auxiliar de limpeza Simone Lopes tem dois netos matriculados na Octacílio. Ela disse que não ficou sabendo da votação, mas é favorável à transição.

“Sinceramente, não entendi muito bem o que muda, mas acredito que vale a pena pela segurança. Para eles e para nós, que ficamos em casa preocupados. Creio que trará mais disciplina, porque tem hora que ‘só Jesus’. Em casa fingem que são santos”, brinca.

Senso crítico

Professor voluntário do Departamento de Educação do Ibilce e doutor em psicologia do desenvolvimento, Raul Aragão considera o modelo de educação cívico-militar um retrocesso para a educação.

“Ele não permite contestação. É uma educação voltada para a obediência. Isso impede que jovens tenham condições de refletir sobre as regras e segui-las por opção, porque desenvolveram autonomia e senso crítico. A educação democrática garante que os estudantes possam contribuir com ideias e questionamentos capazes de promover modificações positivas”, diz. Aragão vê com preocupação que a política tenha como público-alvo a camada pobre da sociedade.

Processo

De acordo com a Secretaria Estadual de Educação o processo de seleção dos monitores será concluído até o final de maio. “No mês de junho, os profissionais selecionados, bem como diretores e vice-diretores passarão por treinamento e ambientação, com o objetivo de garantir a adaptação ao novo modelo educacional”, informou.

A pasta acrescenta que caberá à Secretaria da Segurança Pública apoiar a Secretaria da Educação no processo seletivo e emitir declarações com informações sobre o comportamento e processos criminais ou administrativos, concluídos ou não, em que os candidatos a atuar como monitores nessas unidades de ensino possam estar envolvidos.